Embora numa aula de Educação Física os aspectos corporais sejam mais evidentes, mais facilmente observáveis, e a aprendizagem esteja vinculada à experiência prática, o aluno precisa ser considerado como um todo no qual aspectos cognitivos, afetivos e corporais estão inter-relacionados em todas as situações.
Não
basta a repetição de gestos estereotipados, com vistas a automatizá-los e
reproduzi-los. É necessário que o aluno se aproprie do processo de construção
de conhecimentos relativos ao corpo e ao movimento e construa uma possibilidade
autônoma de utilização de seu potencial gestual.
O
processo de ensino e aprendizagem em Educação Física, portanto, não se restringe
ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o
indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia,
exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada.
Trata-se
de compreender como o indivíduo utiliza suas habilidades e estilos pessoais
dentro de linguagens e contextos sociais, pois um mesmo gesto adquire
significados diferentes conforme a intenção de quem o realiza e a situação em
que isso ocorre. Por exemplo, o chutar é diferente no futebol, na capoeira, na
dança e na defesa pessoal, na medida em que é utilizado com intenções
diferenciadas e em contextos específicos; é dentro deles que a habilidade de
chutar deve ser apreendida e exercitada. É necessário que o indivíduo conheça a
natureza e as características de cada situação de ação corporal, como são
socialmente construídas e valorizadas, para que possa organizar e utilizar sua
motricidade na expressão de sentimentos e emoções de forma adequada e
significativa. Dentro de uma mesma linguagem corporal, um jogo desportivo, por
exemplo, é necessário saber discernir o caráter mais competitivo ou recreativo
de cada situação, conhecer o seu histórico, compreender minimamente regras e
estratégias e saber adaptá-las. Por isso, é fundamental a participação em
atividades de caráter recreativo, cooperativo, competitivo, entre outros, para
aprender a diferenciá-las.
Aprender
a movimentar-se implica planejar, experimentar, avaliar, optar entre
alternativas, coordenar ações do corpo com objetos no tempo e no espaço,
interagir com outras pessoas, enfim, uma série de procedimentos cognitivos que
devem ser favorecidos e considerados no processo de ensino e aprendizagem na
área de Educação Física. E embora a ação e a compreensão sejam um processo
indissociável, em muitos casos, a ação se processa em frações de segundo,
parecendo imperceptível, ao próprio sujeito, que houve processamento mental. É
fundamental que as situações de ensino e aprendizagem incluam instrumentos de
registro, reflexão e discussão sobre as experiências corporais, estratégicas e
grupais que as práticas da cultura corporal oferecem ao aluno.
AUTOMATISMOS E ATENÇÃO
No
ser humano, constata-se uma tendência para a automatização do controle na
execução de movimentos, desde os mais básicos e simples até os mais
sofisticados. Esse processo se constrói a partir da quantidade e da qualidade
do exercício dos diversos esquemas motores e da atenção nessas execuções.
Quanto mais uma criança tiver a oportunidade de saltar, girar ou dançar, mais
esses movimentos tendem a ser realizados de forma automática. Menos atenção é
necessária no controle de sua execução e essa demanda atencional pode
dirigir-se para o aperfeiçoamento desses mesmos movimentos e no enfrentamento
de outros desafios. Essa tendência para a automatização é favorável aos
processos de aprendizagem das práticas da cultura corporal desde que
compreendida como uma função dinâmica, mutável, como parte integrante e não
como meta do processo aprendizagem.
Por
exemplo, quanto mais automatizados estiverem os gestos de digitar um texto,
mais o autor pode se concentrar no assunto que está escrevendo. No basquetebol,
se o aluno já consegue bater a bola com alguma segurança, sem precisar olhá-la
o tempo todo, pode olhar para os seus companheiros de jogo, situar-se melhor no
espaço, planejar algumas ações e isso o torna um jogador melhor, mais
eficiente, capaz de adaptar-se a uma variedade maior de situações.
No
entanto, a repetição pura e simples, realizada de forma mecânica e desatenta, além
de ser desagradável, pode resultar num automatismo estereotipado. Dessa forma,
em cada situação, é necessário que o professor analise quais dos gestos
envolvidos já podem ser realizados automaticamente sem prejuízo de qualidade, e
quais solicitam a atenção do aluno no controle de sua execução. A intervenção
do professor se dá a fim de criar situações em que os automatismos sejam
insuficientes para a realização dos movimentos e a atenção seja necessária para
o seu aperfeiçoamento.
A
quantidade de execuções justifica-se pela necessidade de alimentar
funcionalmente os mecanismos de controle dos movimentos, e se num primeiro
momento é necessário um esforço adaptativo para que a criança consiga executar
um determinado movimento ou coordenar uma seqüência deles, em seguida essa
realização pode ser exercida e repetida, por prazer funcional, de manutenção e
de aperfeiçoamento. Além disso, os efeitos fisiológicos decorrentes do
exercício, como a melhora da condição cardiorrespiratória e o aumento da massa
muscular, são partes do processo da aprendizagem de esquemas motores, e não
apenas um aspecto a ser trabalhado isoladamente.
Em
relação à atenção, estão envolvidos complexos processos de ajuste neuromuscular
e de equilíbrio, regulações de tônus muscular, interpretação de informações
perceptivas, que são postos em ação sempre que os automatismos já construídos
forem insuficientes para a execução de determinado movimento ou seqüência
deles.
O
processo de ensino e aprendizagem deve, portanto, contemplar essas duas variáveis
simultaneamente, permitindo que o aluno possa executar cada movimento ou
conjunto de movimentos o maior número de vezes e criando solicitações adequadas
para que essa realização ocorra da forma mais atenta possível.
Tome-se
como exemplo um jogo de amarelinha. Quando uma criança depara pela primeira vez
com esse jogo, em princípio já dispõe de alguns esquemas motores solicitados,
ou seja, saltar e aterrissar sobre um ou dois pés e equilibrar-se sobre um dos
pés são conhecimentos prévios e sua execução já ocorre de forma mais ou menos
automática. No entanto, a coordenação desses movimentos nas circunstâncias
espaciais propostas pela amarelinha constitui um problema a ser resolvido, e
esse problema solicita toda a atenção da criança durante as execuções iniciais.
Com a prática atenta, e à medida que as execuções ocorrerem de forma cada vez
mais satisfatória e eficiente, a criança será capaz de realizá-las de forma
cada vez mais automática. Nesse momento, uma proposta de jogar amarelinha em
duplas, com as casas mais distantes umas das outras, ou até de olhos vendados,
constitui um problema a ser resolvido que “chama a atenção” do aluno para a
reorganização de gestos que já estavam sendo realizados de forma automática.
As
situações lúdicas, competitivas ou não, são contextos favoráveis de
aprendizagem, pois permitem o exercício de uma ampla gama de movimentos que
solicitam a atenção do aluno na tentativa de executá-los de forma satisfatória
e adequada. Elas incluem, simultaneamente, a possibilidade de repetição para
manutenção e por prazer funcional e a oportunidade de ter diferentes problemas
a resolver. Além disso, pelo fato de o jogo constituir um momento de interação
social bastante significativo, as questões de sociabilidade constituem
motivação suficiente para que o interesse pela atividade seja mantido.
Nesse
sentido, uma atividade só se tornará desinteressante para a criança quando não
representar mais nenhum problema a ser resolvido, nenhuma possibilidade de
prazer funcional pela repetição e nenhuma motivação relacionada à interação
social.
A
interação e a complementaridade permanente entre a atenção e o automatismo no
controle da execução de movimentos poderiam ser ilustradas pela imagem de uma
pessoa andando de bicicleta. Na roda de trás e nos pedais flui uma dinâmica
repetitiva, de caráter automático e constante, responsável pela manutenção do
movimento e da impulsão. No guidão e na roda da frente predomina um estado de
atenção, um alerta consciente que opta, decide, direciona, estabelece desafios e
metas, resolve problemas de trajetória, enfim, que dá sentido à força pulsional
e constante que o pedalar representa.
AFETIVIDADE E ESTILO PESSOAL
Neste
item pretende-se refletir de que forma os afetos, sentimentos e sensações do
aluno interagem com a aprendizagem das práticas da cultura corporal e, ao mesmo
tempo, de que maneira a aprendizagem dessas práticas contribui para a
construção de um estilo pessoal de atuação e relação interpessoal dentro desses
contextos.
Alguns
fatores serão considerados para essa reflexão: os riscos de segurança física, o
grau de excitação somática, as características individuais e vivências
anteriores do aluno (como vivencia a satisfação e a frustração de seus desejos
de aprendizagem) e a exposição do indivíduo num contexto social.
A
aprendizagem em Educação Física envolve alguns riscos do ponto de vista físico
inerentes ao próprio ato de se movimentar, como, por exemplo, nas situações em
que o equilíbrio corporal é solicitado, a possibilidade de desequilíbrio estará
inevitavelmente presente. Dessa forma, mesmo considerando que escorregões,
pequenas trombadas, quedas, impacto de bolas e cordas não possam ser evitados
por completo, cabe ao professor a tarefa de organizar as situações de ensino e
aprendizagem, de forma a minimizar esses pequenos incidentes. O receio ou a
vergonha do aluno em correr riscos de segurança física é motivo suficiente para
que ele se negue a participar de uma atividade, e em hipótese alguma o aluno
deve ser obrigado ou constrangido a realizar qualquer atividade. As propostas
devem desafiar e não ameaçar o aluno, e como essa medida varia de pessoa para
pessoa, a organização das atividades tem que contemplar individualmente esse
aspecto relativo à segurança física.
Uma
outra característica da maioria das situações de prática corporal é o grau
elevado de excitação somática que o próprio movimento produz no corpo,
particularmente em danças, lutas, jogos e brincadeiras. A elevação de
batimentos cardíacos e de tônus muscular, a expectativa de prazer e satisfação,
e a possibilidade de gritar e comemorar, configuram um contexto em que
sentimentos de raiva, medo, vergonha, alegria e tristeza, entre outros, são
vividos e expressos de maneira intensa. Os tênues limites entre o controle e o
descontrole dessas emoções são postos à prova, vivenciados corporalmente e numa
intensidade que, em muitos casos, pode ser inédita para o aluno. A expressão
desses sentimentos por meio de manifestações verbais, de riso, de choro ou de
agressividade deve ser reconhecida como objeto de ensino e aprendizagem, para
que possa ser pautada pelo respeito por si e pelo outro.
As
características individuais e as vivências anteriores do aluno ao deparar com
cada situação constituem o ponto de partida para o processo de ensino e
aprendizagem das práticas da cultura corporal. As formas de compreender e
relacionar-se com o próprio corpo, com o espaço e os obje-tos, com os outros, a
presença de deficiências físicas e perceptivas, configuram um aluno real e não
virtual, um indivíduo com características próprias, que pode ter mais
facilidade para aprender uma ou outra coisa, ter medo disso ou vergonha daquilo
ou ainda julgar-se capaz de realizar algo que, na realidade, ainda não é.
Deparar
com suas potencialidades e limitações para buscar desenvolvê-las é parte
integrante do processo de aprendizagem das práticas da cultura corporal e
envolve sempre um certo risco para o aluno, pois o êxito gera um sentimento de
satisfação e competência, mas experiências sucessivas de fracasso e frustração
acabam por gerar uma sensação de impotência que, num limite extremo,
inviabiliza a aprendizagem.
O
êxito e o fracasso devem ser dimensionados tendo como referência os avanços
realizados pelo aluno em relação ao seu próprio processo de aprendizagem e não
por uma expectativa de desempenho predeterminada.
Por
isso, as situações de ensino e aprendizagem contemplam as possibilidades de o
aluno arriscar, vacilar, decidir, simular e errar, sem que isso implique algum
tipo de humilhação ou constrangimento. A valorização no investimento que o
indivíduo faz contribui para a construção de uma postura positiva em relação à
pesquisa corporal, mesmo porque, a rigor, não existe um gesto certo ou errado e
sim um gesto mais ou menos adequado para cada contexto.
No
âmbito das práticas coletivas da cultura corporal com fins de expressão de
emoções, sentimentos e sensações, as relações de afetividade se configuram, em
muitos casos, a partir de regras e valores peculiares a determinado contexto
estabelecido pelo grupo de participantes. Assim, é a partir do fato de uma
atividade se revestir de um caráter competitivo ou recreativo, se a eficiência
ou a plasticidade estética serão valorizadas, ou se as regras serão mais ou
menos flexíveis, que serão determinadas as relações de inclusão e exclusão do
indivíduo no grupo. Na escola, portanto, quem deve determinar o caráter de cada
dinâmica coletiva é o professor, a fim de viabilizar a inclusão de todos os
alunos. Esse é um dos aspectos que diferencia a prática corporal dentro e fora
da escola.
Gradualmente,
ao longo do processo de aprendizagem, a criança concebe as práticas culturais
de movimento como instrumentos para o conhecimento e a expressão de sensações,
sentimentos e emoções individuais nas relações com o outro.
Em
paralelo com a construção de uma melhor coordenação corporal ocorre uma
construção de natureza mais sutil, de caráter mais subjetivo, que diz respeito
ao estilo pessoal de se movimentar dentro das práticas corporais cultivadas
socialmente.
Essas
práticas corporais permitem ao indivíduo experimentar e expressar um conjunto
de características de sua personalidade, de seu estilo pessoal de jogar, lutar,
dançar e brincar. Mais ainda, de sua maneira pessoal de aprender a jogar, a
lutar, a dançar e a brincar. Pode-se falar em estilo agressivo, irreverente,
obstinado, elegante, cerebral, ousado e retraído, entre outros. Nessas práticas
o aluno explicita para si mesmo e para o outro como é, como se imagina ser,
como gostaria de ser e, portanto, conhece e se permite conhecer pelo outro.
Quanto
mais domínio sobre os próprios movimentos o indivíduo conquistar, quanto mais
conhecimentos construir sobre a especificidade gestual de determinada
modalidade esportiva, de dança ou de luta que exerce, mais pode se utilizar
dessa mesma linguagem para expressar seus sentimentos, suas emoções e o seu
estilo pessoal de forma intencional e espontânea. Dito de outra forma, a
aprendizagem das práticas da cultura corporal inclui a reconstrução dessa mesma
técnica ou modalidade, pelo sujeito, por meio da criação de seu estilo pessoal
de exercê-las, nas quais a espontaneidade deve ser vista como uma construção e
não apenas como a ausência de inibições.
PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS
FÍSICAS
Por
desconhecimento, receio ou mesmo preconceito, a maioria dos portadores de deficiências
físicas foram (e são) excluídos das aulas de Educação Física. A participação
nessa aula pode trazer muitos benefícios a essas crianças, particularmente no
que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades afetivas, de integração e
inserção social.
É
fundamental, entretanto, que alguns cuidados sejam tomados. Em primeiro lugar,
deve-se analisar o tipo de necessidade especial que esse aluno tem, pois
existem diferentes tipos e graus de limitações, que requerem procedimentos
específicos. Para que esses alunos possam freqüentar as aulas de Educação
Física é necessário que haja orientação médica e, em alguns casos, a supervisão
de um especialista em fisioterapia, um neurologista, psicomotricista ou
psicólogo, pois as restrições de movimentos, posturas e esforço podem implicar
riscos graves.
Garantidas
as condições de segurança, o professor pode fazer adaptações, criar situações
de modo a possibilitar a participação dos alunos especiais. Uma criança na
cadeira de rodas pode participar de uma corrida se for empurrada por outra e,
mesmo que não desenvolva os músculos ou aumente a capacidade cardiovascular,
estará sentindo as emoções de uma corrida. Num jogo de futebol, a criança que
não deve fazer muito esforço físico pode ficar um tempo no gol, fazer papel de
técnico, de árbitro ou mesmo torcer. A aula não precisa se estruturar em função
desses alunos, mas o professor pode ser flexível, fazendo as adequações
necessárias.
Outro
ponto importante é em relação a situações de vergonha e exposição nas aulas de
Educação Física. A maioria das pessoas portadoras de deficiências tem traços
fisionômicos, alterações morfológicas ou problemas de coordenação que as
destacam das demais. A atitude dos alunos diante dessas diferenças é algo que
se construirá na convivência e dependerá muito da atitude que o professor
adotar. É possível integrar essa criança ao grupo, respeitando suas limitações,
e, ao mesmo tempo, dar oportunidade para que desenvolva suas potencialidades.
A
aula de Educação Física pode favorecer a construção de uma atitude digna e de
respeito próprio por parte do deficiente e a convivência com ele pode
possibilitar a construção de atitudes de solidariedade, de respeito, de
aceitação, sem preconceitos.
ENTENDIMENTO
APRENDER E ENSINAR EDUCAÇÃO
FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL.
A
aula de Educação Física faz com que o corpo e o movimento sejam mais
valorizados, porém o aluno deve ser visto como um ser completo, ou seja, que os
aspectos motores, cognitivos e afetivos estejam interligados.
Não adianta
fazer a alienação de um movimento, o aluno deve conhecer uma gama de movimentos
para aumentar seu repertório motor.
Então
a aula de Educação Física não serve para melhorar um fundamento específico de
uma modalidade esportiva, e sim, dar ao indivíduo, uma reflexão de suas
capacidades, e reproduzi-las na sociedade.
É
entender como a pessoa utiliza os movimentos como expressão corporal em
contextos sociais diferentes, porque um movimento pode ter diversos
significados nos diferentes contextos do dia-a-dia.
Para
se realizar um movimento, temos que: planejar, experimentar, avaliar, escolher
as melhores alternativas, coordenar as ações do corpo em reação a objetos, ou
seja, inúmeros fatores cognitivos que também devem ser trabalhados na Educação
Física.
AUTOMATISMO E ATENÇÃO
O
ser humano tem uma tendência para a automatização de um movimento, seja ele
simples ou complexo e isso depende da quantidade e qualidade do exercício dos
diversos esquemas motores e da atenção.
Quando
as crianças pulam, dança, gira, esses movimentos podem ser realizados de forma
automática e os aperfeiçoamentos de alguns movimentos podem ser de maneira mais
fácil.
A
automatização se caracteriza na melhoria de um processo.
A
repetição de um gesto de uma maneira displicente, além de ser desconfortável,
pode criar uma automatização errada, ou seja, um vício motor.
Em
relação à atenção, os difíceis ajustes neuromusculares de equilíbrio e
informações de percepção corporal, são acionados quando o automatismo
construído for bastante preparado para a execução de movimentos.
A
Ensino-aprendizagem tem que ter o objetivo de fazer com que essas duas
variáveis trabalhem juntas, auxiliando o aluno a executar um movimento e seu
maior número de repetições e a criação de alguns obstáculos que ajudem no
desenvolvimento.
As
situações lúdicas, competitivas ou não, são essenciais na aprendizagem, pois
necessitam de um enorme conhecimento de padrões motores, e que precisam de
certo grau perfeição na execução. Elas dão a oportunidade de repetição dos
movimentos e novos problemas a serem resolvidos. Os jogos contêm momentos de
interação social e isso deixa a motivação interessante para que a atividade
seja mantida.
Um
jogo ou atividade ficará desinteressante quando não representar nenhum problema
a ser resolvido, nenhum prazer ou interação social.
AFETIVIDADE E ESTILO PESSOAL
Os
alunos têm afetos, sentimento e sensações que afetam de maneira positiva ou
negativa a aprendizagem da cultura corporal e a aprendizagem dessas práticas,
ajudam um estilo pessoal e uma relação intrapessoal.
A
aprendizagem em Educação Física envolve alguns riscos além do ato de se
movimentar. Por exemplo, quando o equilíbrio corporal é requisitado, o
desequilíbrio também estará presente. O professor tem que desafiar o aluno, não
humilha-lo, para fazê-lo participar da atividade que irá ajuda-lo.
Uma
das características da prática corporal é a excitação somática e a elevação dos
batimentos cardíacos, encontrado em danças, lutas, jogos e esportes.
Todas
as experiências dos alunos servem de um ponto inicial para o ensino e
aprendizagem da cultura corporal. Todo o seu relacionamento com objetos,
sentimentos, deficientes, o seu corpo, formam um aluno real e não virtual.
Melhorar
suas qualidades e superar suas dificuldades físicas é parte do processo da
prática de cultura corporal, mas tem seus riscos. O êxito gera um sentimento de
satisfação e a frustração gera uma sensação de impotência.
Para
determinar se um aluno teve um êxito ou frustração ele deve ser comparado com
si e não com algo já predeterminado.
Assim,
o aluno pode tentar e até mesmo falhar que ele não será motivo de chacota, pois
não existe o certo ou errado, somente um gesto mais/menos apropriado ao
contexto.
Na
escola a prática coletiva da cultura corporal, com finalidade de gerar emoção,
sentimentos e sensações, a afetividade vem de regras e valores únicos do
contexto feito pelos alunos.
Junto
com a coordenação do corpo, ocorre uma construção de um caráter mais subjetivo,
que é o seu estilo pessoal de se movimentar.
Essas
práticas corporais dão a oportunidade de expressar suas características de
jogar, lutar e brincar, ou mais, expressa sua maneira de aprender a jogar,
lugar e brincar.
Quanto
mais aluno tiver controle sobre seus movimentos, conhecimento de esportes,
lutas ou danças ele conseguirá através delas expressar seus sentimentos, suas
emoções e estilo pessoal de forma espontânea.
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
FÍSICA
Por
vários fatores tais como: preconceito, receio ou desconhecimento, os portadores
de deficiência física são excluídos das aulas de Educação Física, mas, essas
aulas podem trazer um desenvolvimento afetivo e de interação social.
Mas
para fazer com que os deficientes participem das aulas de Educação Física,
alguns cuidados devem ser tomados, pois existem diversas deficiências e
diversos graus de deficiência. Se necessário o profissional de Educação Física
deve ser acompanhado de um profissional de outra área que o auxiliará na
prática da aula.
Cabe
ao professor fazer adaptações nos esportes e nas brincadeiras para um
cadeirante, participar da aula.
A
maioria das pessoas com deficiência podem apresentar modificações fisiológicas
ou morfológicas. A atitude dos alunos diante dessa diferença é algo que mudará
com o tempo, pois existe a “adaptação” de ambos os lados (aluno e deficiente
físico), e o professor deve inteirar a criança na aula, respeitando suas
limitações, mas oferecendo a oportunidade de melhorar suas qualidades.
A
aula de Educação Física, deve favorecer a construção de uma atitude digna e de
respeito próprio por parte do deficiente e com sua convivência, possa
possibilitar a construção de atitudes de solidariedade, respeito, de aceitação,
sem preconceitos.
PRIMEIRO CICLO
ENSINO E APRENDIZAGEM DE
EDUCAÇÃO FÍSICA NO PRIMEIRO CICLO
Ao
ingressarem na escola, as crianças já têm uma série de conhecimentos sobre
movimento, corpo e cultura corporal, frutos de experiência pessoal, das
vivências dentro do grupo social em que estão inseridas e das informações
veiculadas pelos meios de comunicação.
As
diferentes competências com as quais as crianças chegam à escola são
determinadas pelas experiências corporais que tiveram oportunidade de
vivenciar. Ou seja, se não puderam brincar, conviver com outras crianças,
explorar diversos espaços, provavelmente suas competências serão restritas. Por
outro lado, se as experiências anteriores foram variadas e freqüentes, a gama
de movimentos e os conhecimentos sobre jogos e brincadeiras serão mais amplos.
Entretanto, tendo mais ou menos conhecimentos, vivido muitas ou poucas
situações de desafios corporais, para os alunos a escola configura-se como um
espaço diferenciado, onde terão que ressignificar seus movimentos e
atribuir-lhes novos sentidos, além de realizar novas aprendizagens.
Cabe
à escola trabalhar com o repertório cultural local, partindo de experiências
vividas, mas também garantir o acesso a experiências que não teriam fora da
escola. Essa diversidade de experiências precisa ser considerada pelo professor
quando organiza atividades, toma decisões sobre encaminhamentos individuais e
coletivos e avalia procurando ajustar sua prática às reais necessidades de
aprendizagem dos alunos.
Nesse
momento da escolaridade, os alunos têm grande necessidade de se movimentar e
estão ainda se adaptando à exigência de períodos mais longos de concentração em
atividades escolares. Entretanto, afora o horário de intervalo, a aula de
Educação Física é, muitas vezes, a única situação em que têm essa oportunidade.
Tal peculiaridade freqüentemente gera uma situação ambivalente: por um lado, os
alunos apreciam e anseiam por esse horário; por outro, ficam em um nível de
excitação tão alto que torna difícil o andamento da aula. A capacidade dos
alunos em se organizar é também objeto de ensino e aprendizagem; portanto,
distribuir-se no espaço, organizar-se em grupos, ouvir o professor, arrumar
materiais, entre outras coisas, são procedimentos que devem ser trabalhados
para favorecer o desenvolvimento dessa capacidade. Tomar todas as decisões
pelos alunos ou deixá-los totalmente livre para resolver tudo, dificilmente
contribuirá para a construção dessa autonomia.
Se
for o professor polivalente quem ministra as aulas de Educação Física abre-se a
possibilidade de, além das aulas já planejadas na rotina semanal, programar
atividades em momentos diferenciados, por exemplo, logo após alguma atividade
que tenha exigido das crianças um grau muito grande de concentração, de forma a
balancear o tipo de demanda solicitada.
Mesmo
sendo o professor quem faz as propostas e conduz o processo de ensino e
aprendizagem, ele deve elaborar sua intervenção de modo que os alunos tenham
escolhas a fazer, decisões a tomar, problemas a resolver, assim os alunos podem
tornar-se cada vez mais independentes e responsáveis.
A
maneira de brincar e jogar sofre uma profunda modificação no que diz respeito à
questão da sociabilidade. Ocorre uma ampliação da capacidade de brincar: além
dos jogos de caráter simbólico, nos quais as fantasias e os interesses pessoais
prevalecem, as crianças começam a praticar jogos coletivos com regras, nos
quais têm de se ajustar às restrições de movimentos e interesses pessoais.
Essa
restrição é a própria regra, que garante a viabilidade da interação de
interesses pessoais numa dinâmica coletiva. A possibilidade e a necessidade de
jogar junto com os outros, em função do movimento dos outros, passa pela
compreensão das regras e um comprometimento com elas. Isso é algo que leva todo
o primeiro ciclo para ser construído. Significa também que o professor deve
discutir o sentido de tais regras, explicitando quais são suas implicações nos
jogos e brincadeiras.
Nos
casos em que houver desentendimentos, é importante lembrar como as regras foram
estabelecidas e quais suas funções, tentando fazer com que as crianças cheguem
a um acordo. Caso isso não ocorra, o professor pode assumir o papel de juiz,
explicitando que essa é uma forma socialmente legítima de se atuar em
competições, e então arbitrar uma decisão. É essencial que, em situações de
conflito, as crianças tenham no adulto uma referência externa que garanta o
encaminhamento de soluções.
No
início da escolaridade, durante os jogos e brincadeiras os alunos se agrupam em
apenas alguns espaços da quadra ou do campo. Isso fica claro quando, em alguns
jogos coletivos, todos se aglutinam em torno da bola, inviabilizando a
utilização estratégica e articulada do espaço. Com a vivência de variadas
situações em que tenham que resolver problemas relativos ao uso do espaço, a
forma de atuação das crianças modifica-se paulatinamente e elas podem, então,
construir uma boa representação mental de seus deslocamentos e posicionamentos.
Todas
as crianças sabem pelo menos uma brincadeira ou um jogo que envolva movimentos.
Esse repertório de manifestações culturais pode vir de fontes como família,
amigos, televisão, entre outros, e é algo que pode e deve ser compartilhado na
escola. É fundamental que o aluno se sinta valorizado e acolhido em todos os
momentos de sua escolaridade e, no ciclo inicial, em que seus vínculos com essa
instituição estão se estabelecendo, o fato de poder trazer algo de seu
cotidiano, de sua experiência pessoal, favorece sua adaptação à nova situação.
Ao
desafio apresentado, acrescenta-se que, principalmente no que diz respeito às
habilidades motoras, os alunos devem vivenciar os movimentos numa
multiplicidade de situações, de modo que construam um repertório amplo. A
especialização mediante treinamento não é adequada para a faixa etária que se
presume para esta etapa da escolaridade, pois não é momento de restringir as
possibilidades dos alunos. Além disso, o contexto da aula de Educação Física
deve poder contemplar as diferentes competências de todos os alunos, não apenas
daqueles que têm mais facilidades para determinados desafios, de modo que todos
possam desenvolver suas potencialidades. O trabalho com as habilidades motoras
e capacidades físicas deve estar contextualizado em situações significativas e
não ser transformado em exercícios mecânicos e automatizados. Mais do que
objetos de aprendizagem para os alunos, são um recurso para o professor poder
olhar, analisar e criar intervenções que auxiliem o desenvolvimento e a
aprendizagem de seus alunos.
Nas
aulas de Educação Física, as crianças estão muito expostas: nos jogos,
brincadeiras, desafios corporais, entre outros, umas vêem o desempenho das
outras e já são capazes de fazer algumas avaliações sobre isso. Não leva muito
tempo para que descubram quem são aqueles que têm mais familiaridade com o
manuseio de uma bola, quem é que corre mais ou é mais lento e quem tem mais
dificuldade em acertar um arremesso, por exemplo. Por isso, é fundamental que
se tome cuidado com as discriminações e estigmatizações que possam ocorrer. Se,
no início de sua escolaridade, a criança é tachada de incompetente por ter
algum tipo de dificuldade, é improvável que supere suas limitações, que busque
novos desafios e se torne mais competente. Nesse sentido, é função do professor
dar oportunidade para que os alunos tenham uma variedade de atividades em que
diferentes competências sejam exercidas e as diferenças individuais sejam
valorizadas e respeitadas.
Um
outro aspecto dessa mesma questão que merece destaque neste ciclo é a diferença
entre as competências de meninos e meninas. Normalmente, por razões
socioculturais, ao ingressar na escola, os meninos tiveram mais experiências
corporais, principalmente no que se refere ao manuseio de bolas e em atividades
que demandam força e velocidade. As meninas, por sua vez, tiveram mais
experiências, portanto têm mais competência, em atividades expressivas e
naquelas que exigem mais equilíbrio, coordenação e ritmo. Tradicionalmente, a
Educação Física valoriza as capacidades e habilidades envolvidas nos jogos, nas
quais os meninos são mais competentes, e a defasagem entre os dois sexos pode
aumentar. Duas mudanças devem ocorrer para alterar esse quadro: primeiro, às
meninas devem ser dadas oportunidades de se apropriarem dessas competências em
situações em que não se sintam pressionadas, diminuídas, e tenham tempo para
adquirir experiência; em segundo lugar, com a incorporação das atividades
rítmicas e expressivas às aulas de Educação Física, os meninos poderão também
desenvolver novas competências.
OBJETIVOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PARA O PRIMEIRO CICLO
Espera-se
que ao final do primeiro ciclo os alunos sejam capazes de:
Participar
de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e
solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais,
físicas, sexuais ou culturais;
Conhecer
algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder
estabelecer algumas metas pessoais (qualitativas e quantitativas);
Conhecer,
valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de
cultura corporal presentes no cotidiano;
Organizar
autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais
simples.
CONTEÚDOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PARA O PRIMEIRO CICLO
No
primeiro ciclo, em função da transição que se processa entre as brincadeiras de
caráter simbólico e individual para as brincadeiras sociais e regradas, os
jogos e as brincadeiras privilegiados serão aqueles cujas regras forem mais
simples. Jogos do tipo mãe-da-rua, esconde-esconde, pique-bandeira, entre
muitos outros, permitem que a criança vivencie uma série de movimentos dentro
de certas delimitações. Um compromisso com as regras inclui a aprendizagem de
movimentos como, por exemplo, frear antes de uma linha, desviar de obstáculos
ou arremessar uma bola a uma determinada distância.
É
característica marcante desse ciclo a diferenciação das experiências e
competências de movimento de meninos e meninas. Os conteúdos devem contemplar,
portanto, atividades que evidenciem essas competências de forma a promover uma
troca entre os dois grupos. Atividades lúdicas e competitivas, nas quais os
meninos têm mais desenvoltura, como, por exemplo, os jogos com bola, de
corrida, força e agilidade, devem ser mescladas de forma equilibrada com
atividades lúdicas e expressivas nas quais as meninas, genericamente, têm uma
experiência maior; por exemplo, lengalengas, pequenas coreografias, jogos e
brincadeiras que envolvam equilíbrio, ritmo e coordenação.
Os
jogos e atividades de ocupação de espaço devem ter lugar de destaque nos
conteúdos, pois permitem que se amplie as possibilidades de se posicionar
melhor e de compreender os próprios deslocamentos, construindo representações
mentais mais acuradas do espaço. Também nesse aspecto, a referência é o próprio
corpo da criança e os desafios devem levar em conta essa característica,
apresentando situações que possam ser resolvidas individualmente, mesmo em
atividades em grupo.
No
plano especificamente motor, os conteúdos devem abordar a maior diversidade
possível de possibilidades, ou seja, correr, saltar, arremessar, receber,
equilibrar objetos, equilibrar-se, desequilibrar-se, pendurar-se, arrastar,
rolar, escalar, quicar bolas, bater e re bater com diversas partes do corpo e
com objetos, nas mais diferentes situações.
Cabe
ainda ressaltar que essas explorações e experiências devem ocorrer inclusive
individualmente. Equivale dizer que, no primeiro ciclo, é necessário que o
aluno tenha acesso aos objetos como bolas, cordas, elásticos, bastões,
colchões, alvos, em situações não-competitivas, que garantam espaço e tempo
para o trabalho individual. A inclusão de atividades em circuitos de obstáculos
é favorável ao desenvolvimento de capacidades e habilidades individuais.
Ao
longo do primeiro ciclo serão abordados uma série de conteúdos, nas dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais. Tais conteúdos são referentes aos
blocos explanados no item “Critérios de seleção e organização dos conteúdos” do
presente documento, mas estão colocados de maneira integrada, sem divisões.
Explicita-se a seguir a lista daqueles a serem trabalhados nesse ciclo que
poderão ser retomados e aprofundados e/ou tornarem-se mais complexos nos ciclos
posteriores:
Participação
em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e não discriminando os
colegas;
Explicação
e demonstração de brincadeiras aprendidas em contextos extra-escolares;
Participação
e apreciação de brincadeiras ensinadas pelos colegas;
Resolução
de situações de conflito por meio do diálogo, com a ajuda do professor;
Discussão
das regras dos jogos;
Utilização
de habilidades em situações de jogo e luta, tendo como referência de avaliação
o esforço pessoal;
Resolução
de problemas corporais individualmente;
Avaliação
do próprio desempenho e estabelecimento de metas com o auxílio do professor;
Participação
em brincadeiras cantadas;
Criação
de brincadeiras cantadas;
Acompanhamento
de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo;
Apreciação
e valorização de danças pertencentes à localidade;
Participação
em danças simples ou adaptadas, pertencentes a manifestações populares,
folclóricas ou de outro tipo que estejam presentes no cotidiano;
Participação
em atividades rítmicas e expressivas;
Utilização
e recriação de circuitos;
Utilização
de habilidades (correr, saltar, arremessar, rolar, bater, rebater, receber,
amortecer, chutar, girar, etc.) durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças;
Desenvolvimento
das capacidades físicas durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças;
Diferenciação
das situações de esforço e repouso;
Reconhecimento
de algumas das alterações provocadas pelo esforço físico, tais como excesso de
excitação, cansaço, elevação de batimentos cardíacos, mediante a percepção do
próprio corpo.
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE
EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O PRIMEIRO CICLO
Enfrentar
desafios corporais em diferentes contextos como circuitos, jogos e brincadeiras
Pretende-se
avaliar se o aluno demonstra segurança para experimentar, tentar e arriscar em
situações propostas em aula ou em situações cotidianas de aprendizagem
corporal.
•
Participar das atividades respeitando as regras e a organização
Pretende-se
avaliar se o aluno participa adequadamente das atividades, respeitando as regras,
a organização, com empenho em utilizar os movimentos adequados à atividade
proposta.
Interagir
com seus colegas sem estigmatizar ou discriminar por razões físicas, sociais,
culturais ou de gênero
Pretende-se
avaliar se o aluno reconhece e respeita as diferenças individuais e se
participa de atividades com seus colegas, auxiliando aqueles que têm mais
dificuldade e aceitando ajuda dos que têm mais competência.
SEGUNDO CICLO
ENSINO E APRENDIZAGEM DE
EDUCAÇÃO FÍSICA NO SEGUNDO CICLO
No
segundo ciclo é de se esperar que os alunos já tenham incorporado a rotina
escolar, atuem com maior independência e dominem uma série de conhecimentos. No
que se refere à Educação Física, já têm uma gama de conhecimentos comum a
todos, podem compreender as regras dos jogos com mais clareza e têm mais
autonomia para se organizar. Desse modo, podem aprofundar e também fazer uma
abordagem mais complexa daquilo que sabem sobre os jogos, brincadeiras,
esportes, lutas, danças e ginásticas.
Já
devem ter consolidado um repertório de brincadeiras e jogos que deverá ser
transformado e ampliado. A possibilidade de compreensão das regras do jogo é
maior, o que permite que percebam as funções que elas têm, de modo a sugerir
alterações para tornar os jogos e brincadeiras mais desafiantes. É comum nesse
ciclo que as crianças comecem a organizar as atividades e brincadeiras
vivenciadas nas aulas de Educação Física em horários de recreio e de entrada e
saída da escola.
A
compreensão das regras e a autonomia para a organização das atividades permitem
ainda que os aspectos estratégicos dos jogos passem a fazer parte dos problemas
a serem resolvidos pelo grupo e, nesse sentido, o professor pode interromper os
jogos em determinados momentos, solicitando uma reflexão e uma conversa sobre
qual estratégia mais adequada para cada situação, auxiliando assim para que
novos aspectos tornem-se observáveis.
O
grau de dificuldade e complexidade dos movimentos pode aumentar — um pouco mais
específicos, com desafios que visem um desempenho mais próximo daquele
requerido nas atividades corporais socialmente construídas. Por exemplo, correr
quicando uma bola de basquete, saltar e arremessar em suspensão, receber em
deslocamento, chutar uma bola de distâncias mais longas, etc.
Em
relação à utilização do espaço e à organização das atividades, deve-se lançar
mão de divisões em pequenos grupos (por habilidade, afinidade pessoal,
conhecimentos específicos, idades), alternando-as com situações coletivas de
toda a classe. Por exemplo: a quadra — ou o espaço disponível — pode ser
dividida em quatro partes, nas quais os subgrupos trabalhem com atividades
diferenciadas. Isso permite que os alunos tenham tempo de experimentar
determinados movimentos, treiná-los, perceber seus avanços e dificuldades,
criar novos desafios para si mesmos, etc.
O
conhecimento e o controle do corpo permite que comecem a monitorar seu
desempenho, adequando o grau de exigência e de dificuldade de algumas tarefas.
Podem também, pela percepção do próprio corpo, começar a compreender as
relações entre a prática de atividades corporais, o desenvolvimento das
capacidades físicas e os benefícios que trazem à saúde.
Nessa
etapa da escolaridade a apreciação das mais diversas manifestações da cultura
corporal pode ocorrer com a incorporação de mais aspectos e detalhes. Ao
assisti-las, os alunos podem apreciar a beleza, a estética, discutir o contexto
de sua produção, avaliar algumas técnicas e estratégias, observar os padrões de
movimento, entre inúmeras outras possibilidades. Podem, principalmente, aprender
a contemplar essa diversidade e perceber as inúmeras opções que existem, tanto
para praticar como para apreciar.
A
questão das discriminações e do preconceito deve abarcar dimensões mais amplas
do que as da própria classe. Ao se tratar das manifestações corporais das
diversas culturas, deve-se salientar a riqueza da diferença e a dimensão
histórico-social de cada uma.
Se
tiver havido um trabalho para diminuir as diferenças entre as competências de
meninos e meninas no primeiro ciclo, o desempenho será quantitativamente mais
semelhante. Nesse momento, também, as crianças estão mais cientes das
diferenças entre os sexos; portanto, há que se tomar cuidado em relação às
estereotipias, principalmente no que se refere aos tipos de movimento
tradicionalmente considerados.
Depois
de um período em que têm mais interesse em se relacionar com as crianças de seu
próprio sexo, no segundo ciclo meninos e meninas voltam a se aproximar. Antes
dos meninos, as meninas começam a sofrer as alterações físicas e psicológicas da
puberdade e do início da adolescência. Iniciam-se os primeiros namoros, as
primeiras aproximações, num momento em que convivem a necessidade de se exibir
corporalmente e, simultaneamente, a vergonha de expor seu corpo e seu
desempenho. É importante que o professor esteja atento a isso, buscando
responder às questões sobre a puberdade que venham a surgir, interpretando
atitudes de vergonha, receio e insegurança como manifestações desse momento,
tomando cuidado para não expor seus alunos a situações de constrangimento,
humilhação ou qualquer tipo de violência.
OBJETIVOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PARA O SEGUNDO CICLO
Espera-se
que ao final do segundo ciclo os alunos sejam capazes de:
Participar
de atividades corporais, reconhecendo e respeitando algumas de suas
características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus colegas, sem
discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais;
Adotar
atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e
esportivas, buscando solucionar os conflitos de forma não-violenta;
Conhecer
os limites e as possibilidades do próprio corpo de forma a poder controlar
algumas de suas atividades corporais com autonomia e a valorizá-las como
recurso para manutenção de sua própria saúde;
Conhecer,
valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da
cultura corporal, adotando uma postura não-preconceituosa ou discriminatória
por razões sociais, sexuais ou culturais;
Organizar
jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais, valorizando-as como recurso
para usufruto do tempo disponível;
Analisar
alguns dos padrões de estética, beleza e saúde presentes no cotidiano, buscando
compreender sua inserção no contexto em que são produzidos e criticando aqueles
que incentivam o consumismo.
CONTEÚDOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PARA O SEGUNDO CICLO
Os
conteúdos abordados para o segundo ciclo serão, na realidade, desdobramentos e
aperfeiçoamentos dos conteúdos do ciclo anterior.
As
habilidades e capacidades podem receber um tratamento mais específico, na
medida em que os alunos já reúnem condições de compreender determinados
recortes que podem ser feitos ao analisar os tipos de movimento envolvidos em
cada atividade. É possível sugerir brincadeiras e jogos em que algumas
habilidades mais específicas sejam trabalhadas, dentro de contextos
significativos. É possível ainda solicitar que as crianças criem brincadeiras
com esse objetivo.
As
habilidades corporais devem contemplar desafios mais complexos. Por exemplo,
correr-quicar uma bola, saltar-arremessar, saltar-rebater, girar-saltar,
equilibrar objetos-correr.
Em
relação à percepção do corpo os alunos podem fazer análises simples, percebendo
a própria postura e os movimentos em diferentes situações do cotidiano,
buscando encontrar aqueles mais adequados a cada momento. Perceber as
características de movimento de sua coletividade, por meio da observação e do
conhecimento da história local é um trabalho que pode ser desenvolvido junto
com os conteúdos de História, Geografia e Pluralidade Cultural.
Nas
atividades rítmicas e expressivas é possível combinar a marcação do ritmo com
movimentos coordenados entre si. As manifestações culturais da própria
coletividade ou aquelas veiculadas pela mídia podem ser analisadas a partir de
alguns conceitos de qualidade de movimento como ritmo, velocidade, intensidade
e fluidez; podem ser aprendidas e também recriadas. Da mesma forma, as noções
de simultaneidade, seqüência e alternância poderão também subsidiar a
aprendizagem e a criação de pequenas coreografias.
As
crianças geralmente estão muito motivadas pelo esportes porque os conhecem por
meio da mídia e pelo convívio com crianças mais velhas e adultos. Por isso, os
jogos pré-desportivos e os esportes coletivos e individuais podem predominar
nesse ciclo.
A
construção das noções de espaço e tempo se desenvolverá em conjunto com as
aquisições feitas no plano motor; localização no espaço já não é mais tão
egocentrada, podendo incluir o ponto de vista dos outros, o que permite a
realização de antecipações mentais a partir da análise de trajetórias e de
cálculos de deslocamento de pessoas e objetos.
De
posse desses instrumentos, a análise e a compreensão das regras mais complexas
e das estratégias de jogo tornam-se um conhecimento que ajuda a criança a jogar
melhor e a ampliar suas possibilidades de movimento.
As
informações sobre aspectos históricos, contextos sociais em que os jogos foram
criados, as regras e as estratégias básicas de cada modalidade podem e devem
ser abordados. A reflexão, a apreciação e a crítica desses aspectos passam a
ser incluídas como conteúdos, o que pode ser feito a partir das informações
veiculadas pelos meios de comunicação.
Ao
longo do segundo ciclo serão abordados conteúdos nas dimensões conceituais,
procedimentais e atitudinais. Como no primeiro ciclo, os conteúdos estão
integrados e não separados por blocos. Explicita-se a seguir a lista daqueles
que continuam a ser abordados além dos que deverão começar a ser desenvolvidos
nesse ciclo e poderão ser aprofundados e/ou tornarem-se mais complexos nos
ciclos posteriores:
Participação
em atividades competitivas, respeitando as regras e não discriminando os
colegas, suportando pequenas frustrações, evitando atitudes violentas;
Observação
e análise do desempenho dos colegas, de esportistas, de crianças mais velhas ou
mais novas;
Expressão
de opiniões pessoais quanto a atitudes e estratégias a serem utilizadas em
situações de jogos, esportes e lutas;
Apreciação
de esportes e lutas considerando alguns aspectos técnicos, táticos e estéticos;
Reflexão
e avaliação de seu próprio desempenho e dos demais, tendo como referência o
esforço em si, prescindindo, em alguns casos, do auxílio do professor;
Resolução
de problemas corporais individualmente e em grupos;
Participação
na execução e criação de coreografias simples;
Participação
em danças pertencentes a manifestações culturais da coletividade ou de outras
localidades, que estejam presentes no cotidiano;
Apreciação
e valorização de danças pertencentes à localidade;
Valorização
das danças como expressões da cultura, sem discriminações por razões culturais,
sociais ou de gênero;
Acompanhamento
de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo, em coordenação;
Participação
em atividades rítmicas e expressivas;
Análise
de alguns movimentos e posturas do cotidiano a partir de elementos
socioculturais e biomecânicos;
Percepção
do próprio corpo e busca de posturas e movimentos não-prejudiciais nas
situações do cotidiano;
Utilização
de habilidades motoras nas lutas, jogos e danças;
Desenvolvimento
de capacidades físicas dentro de lutas, jogos e danças, percebendo limites e
possibilidades;
Diferenciação
de situações de esforço aeróbico, anaeróbico e repouso;
Reconhecimento
de alterações corporais, mediante a percepção do próprio corpo, provocadas pelo
esforço físico, tais como excesso de excitação, cansaço, elevação de batimentos
cardíacos, efetuando um controle dessas sensações de forma autônoma e com o
auxílio do professor.
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE
EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O SEGUNDO CICLO
Enfrentar
desafios colocados em situações de jogos e competições, respeitando as regras e
adotando uma postura cooperativa
Pretende-se
avaliar se o aluno aceita as limitações impostas pelas situações de jogo, tanto
no que se refere às regras quanto no que diz respeito à sua possibilidade de
desempenho e à interação com os outros. Espera-se que o aluno tolere pequenas
frustrações, seja capaz de colaborar com os colegas, mesmo que estes sejam
menos competentes, e participe do jogo com entusiasmo.
Estabelecer
algumas relações entre a prática de atividades corporais e a melhora da saúde
individual e coletiva
Pretende-se
avaliar se o aluno reconhece que os benefícios para a saúde decorrem da
realização de atividades corporais regulares, se tem critérios para avaliar seu
próprio avanço e se nota que esse avanço decorre da perseverança.
Valorizar
e apreciar diversas manifestações da cultura corporal, identificando suas possibilidades
de lazer e aprendizagem
Pretende-se
avaliar se o aluno reconhece que as formas de expressão de cada cultura são
fontes de aprendizagem de diferentes tipos de movimento e expressão. Espera-se
também que o aluno tenha uma postura receptiva, não discrimine produções
culturais por quaisquer razões sociais, étnicas ou de gênero.
ENTENDIMENTO
PRIMEIRO CICLO
ENSINO
E APRENDIZAGEM DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO PRIMEIRO CICLO
Quando
as crianças chegam à escola, elas já têm um enorme conhecimento sobre o
conhecimento, pois elas adquiriram com suas próprias experiências.
Cabe
à escola trabalhar com o repertório de cultura local, dando ênfase em
estruturas vividas e dar a oportunidade de demonstrar algo que não foi vivido.
Nessa
idade, a criança necessita de estar em movimento e não estão acostumadas com as
exigências escolares. Por isso, a importância das aulas de Educação Física.
A
aula de Educação Física é muito esperada pelos alunos, por isso pode haver uma
enorme excitação. E durante a aula pode haver desentendimento e cabe ao
professor apaziguar as desavenças.
Os
desafios apresentados pelos professores devem ser a respeito dos níveis de
habilidades motoras, os alunos devem vivenciar uma enorme diferença de
movimentos.
Nessa
fase é a diferença de meninos e meninas. Os meninos são melhores em práticas
corporais de movimento bruto e as meninas em movimentos de expressividades.
OBJETIVOS
DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O PRIMEIRO CICLO
Participar
de diferentes atividades corporais em atitude cooperativa.
Conhecer
suas possibilidades e limitações.
Conhecer,
valorizar, apreciar e desfrutar algumas diferenças de manifestações.
Organizar
alguns jogos e brincadeiras.
CONTEÚDOS
DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O PRIMEIRO CICLO
Brincadeiras
de regras e caráter simbólico e individual. Jogos de regras simples e que façam
que as crianças troquem “experiências de meninos e meninas”.
Sempre
considerar atividades que contemple a cooperação, aumento do repertório motor e
a cognição.
CRITÉRIOS
DE AVALIAÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O PRIMEIRO CICLO
Avalia
o aluno quando demonstra segurança para experimentar, tentar e arriscar nas
situações dadas em aula. Participar de jogos e brincadeiras, respeitando regras
e quando respeita as diferenças dos colegas e quando auxiliam os colegas.
SEGUNDO CICLO
ENSINO
E APRENDIZAGEM DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO SEGUNDO CICLO
Os
alunos no segundo ciclo já estão com a rotina escolar e têm uma maior
independência.
As
regras dos jogos podem ser mais complexas. Os movimentos podem ser mais
específicos.
As
diferenças de meninos e meninas são menores no segundo ciclo. Meninos e meninas
voltam a se reaproximar, muito por causa da puberdade e das “paixões”
A
cultura corporal é mais apreciada, sua beleza e estética.
OBJETIVOS
DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O SEGUNDO CICLO
Participar
de atividades corporais, reconhecendo e repeitando os seus e os limites dos
outras pessoas.
Ter
respeito mútuo, dignidade e solidariedade.
Conhecer
os limites do seu corpo.
Organizar
jogos e brincadeiras com o tempo disponível.
Analisar
padrões de estética, beleza e saúde.
CONTEÚDOS
DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O SEGUNDO CICLO
São
os mesmos conteúdos do primeiro ciclo, porém, mais aprofundado.
As
habilidades podem se tornar mais específicas. Como correr e quicar uma bola ao
mesmo tempo.
A
percepção do corpo se dá a análise de sua postura e movimentos diferentes do
cotidiano.
Iniciação
de passos de dança, ou seja, passos coordenados.
Utilização
de jogos pré-desportivos para dar iniciação ao esporte propriamente dito.
CRITÉRIOS
DE AVALIAÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O SEGUNDO CICLO
Avalia-se
quando o aluno consegue respeitar e aceitar as limitações existentes nos jogos,
também se espera que o aluno supere pequenas frustrações. Quando o aluno
reconhece a atividade física como melhoria da sua saúde e se conseguem notar a
sua melhoria e quando reconhece as formas de expressão de cada cultura são
fontes de aprendizagem.
ENCAMINHAMENTOS
METODOLÓGICOS
Considerando
o objeto de ensino e de estudo da Educação Física tratado nestas Diretrizes,
isto é, a Cultura Corporal, por meio dos Conteúdos Estruturantes propostos –
esporte, dança, ginástica, lutas, jogos e brincadeiras –, a Educação Física tem
a função social de contribuir para que os alunos se tornem sujeitos capazes de
reconhecer o próprio corpo, adquirir uma expressividade corporal consciente e
refletir criticamente sobre as práticas corporais.
O
professor de Educação Física tem, assim, a responsabilidade de organizar e
sistematizar o conhecimento sobre as práticas corporais, o que possibilita a
comunicação e o diálogo com as diferentes culturas. No processo pedagógico, o
senso de investigação e de pesquisa pode transformar as aulas de Educação Física
e ampliar o conjunto de conhecimentos que não se esgotam nos conteúdos, nas
metodologias, nas práticas e nas reflexões.
Essa
concepção permite ao educando ampliar sua visão de mundo por meio da Cultura
Corporal, de modo que supere a perspectiva pautada no tecnicismo e na
desportivização das práticas corporais. Por exemplo: ao se tratar do histórico
de determinada modalidade, na perspectiva tecnicista, os fatos eram
apresentados de forma anacrônica e acrítica. No entanto, no encaminhamento
proposto por estas Diretrizes, esse mesmo conhecimento é transmitido e
discutido com o aluno, levando-se em conta o momento político, histórico,
econômico e social em que os fatos estão inseridos.
Cabe
ressaltar que tratar o conhecimento não significa abordar o conteúdo ‘teórico’,
mas, sobretudo, desenvolver uma metodologia que tenha como eixo central a
construção do conhecimento pela práxis, isto é, proporcionar, ao mesmo tempo, a
expressão corporal, o aprendizado das técnicas próprias dos conteúdos propostos
e a reflexão sobre o movimento corporal, tudo isso segundo o princípio da
complexidade crescente, em que um mesmo conteúdo pode ser discutido tanto no
Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio.
Ao
trabalhar o Conteúdo Estruturante jogo, o professor do Ensino Fundamental pode
apresentar aos seus alunos diversas modalidades de jogo, com suas regras mais
elementares, as possibilidades de apropriação e recriação, conforme a cultura
local. Pode, ainda, discutir em que o jogo se diferencia do esporte,
principalmente quanto à liberdade do uso de regras.
Já o
professor do Ensino Médio, ao trabalhar com o mesmo Conteúdo Estruturante, pode
inserir questões envolvendo as diversas dimensões sociais em jogos que
requeiram maior capacidade de abstração por parte do aluno.
Um
jogo de representação, com imagens de revistas ou jornais, poderia ser
proposto, considerando conhecimentos assimilados desde o Ensino Fundamental. A
partir de então, é possível problematizar as relações de poder e os conflitos
surgidos no decorrer de sua prática, como foram solucionados e as semelhanças
deste jogo com outras esferas da sociedade.
Ao
pensar o encaminhamento metodológico para as aulas de Educação Física na
Educação Básica, é preciso levar em conta, inicialmente, aquilo que o aluno
traz como referência acerca do conteúdo proposto, ou seja, é uma primeira
leitura da realidade. Esse momento caracteriza-se como preparação e mobilização
do aluno para a construção do conhecimento escolar.
Após
o breve mapeamento daquilo que os alunos conhecem sobre o tema, o professor
propõe um desafio remetendo-o ao cotidiano, criando um ambiente de dúvidas
sobre os conhecimentos prévios. Por exemplo, levantar a seguinte questão sobre
o jogo: todo jogo é necessariamente competitivo? Será que existe alguma maneira
de jogar sem que exista um vencedor no final?
Posteriormente,
o professor apresentará aos alunos o conteúdo sistematizado, para que tenham
condições de assimilação e recriação do mesmo, desenvolvendo, assim, as
atividades relativas à apreensão do conhecimento através da prática corporal.
Ainda neste momento, o professor realiza as intervenções pedagógicas
necessárias, para que o jogo não se encaminhe desvinculado dos objetivos
estabelecidos.
Finalizando
a aula, ou um conjunto de aulas, o professor pode solicitar aos alunos que
criem outras variações de jogo, vivenciando-as. Neste momento, é possível
também a efetivação de um diálogo que permite ao aluno avaliar o processo de
ensino/aprendizagem, transformando-se intelectual e qualitativamente em relação
à prática realizada.
Para
melhor compreensão da metodologia proposta nestas Diretrizes, descreve-se outro
exemplo, relacionado ao Conteúdo Estruturante lutas, e conteúdo básico capoeira.
A capoeira é uma prática corporal da cultura afro-brasileira, cujos elementos
são importantes para entender a história do Brasil. Pela capoeira, podemos
pensar nossa história também sob o olhar dos afro-descendentes, fato pouco
retratado na história tradicional. A partir desse conteúdo, pode-se lançar um
olhar para outras temáticas diretamente envolvidas. O assunto a ser abordado é jogando capoeira.
Como
conteúdo específico, a capoeira pode
também vir a ser excludente, caso não sejam respeitadas as limitações e
possibilidades corporais, sociais e culturais de cada aluno. Nessa proposta de
aula, o objetivo é que os alunos compreendam como a capoeira, que outrora foi
uma manifestação cultural e de libertação, tornou-se, em alguns casos,
elitizada, competitiva, sem preocupação com a singularidade de cada
participante. Outro importante objetivo com essa aula é a possibilidade de
vivenciar a capoeira, sem a preocupação com a técnica como parâmetro único e
exclusivo.
Tão
logo os objetivos estejam traçados, o professor buscará mapear o que os alunos
já conhecem do tema. Dessa forma, uma interessante questão a ser proposta aos
alunos é: como posso praticar a capoeira sem nunca ter frequentado uma
academia, portanto, sem dominar a técnica?
O
professor questionará se a capoeira esportivizada é inclusiva ou excludente, se
a capoeira como manifestação da cultura corporal pode ou não ser mercantilizada
e de que maneira pode ser inserida na lógica de mercado. Fica mais evidente,
então, a possibilidade de estabelecer relação entre o Conteúdo Estruturante e
os diversos problemas da vida social, sejam de ordem econômica, social ou
cultural.
Após
ter lançado questões ou desafios, que suscitaram a provocação e a reflexão por
parte dos alunos, o professor possibilitará ao educando o contato com o
conhecimento sistematizado, historicamente construído. Assim, poderá começar a
atividade solicitando aos alunos que se dividam em duplas. Em seguida, eles
deverão decidir quem será a presa e quem será seu predador correspondente.
Tomada a decisão, quem for a presa deverá fazer gestos que o identifiquem, para
que o predador possa tentar encostar sua mão nas costas da presa. A brincadeira
tem algumas regras, em que a presa e seu predador poderão se mover apenas
executando um passo para trás ou para frente, um passo para o lado direito ou
esquerdo. O principal objetivo desse primeiro momento é que os alunos ginguem
sem se preocuparem com a correta execução do movimento.
Num
segundo momento, deve-se proporcionar o acesso ao conhecimento de alguns gestos
técnicos que identificam as práticas da capoeira. Esses movimentos poderão ser
demonstrados pelo próprio professor, por algum aluno que possua o conhecimento
prévio da atividade ou até mesmo por um praticante profissional de capoeira
convidado pelo professor. Outro método possível é a utilização de recursos
tecnológicos, como a exposição de vídeos na TV multimídia, para oportunizar aos alunos o contato com alguns
movimentos da capoeira. Deve-se reconstruir, com os educandos, os movimentos da
capoeira, com a representação da presa
e do predador, sob o
enfoque do respeito pelas possibilidades físicas de cada um, o que significa
que qualquer aluno pode praticar capoeira, sem necessidade de conhecimento
prévio, ou de ter participado de algum grupo.
Para
avaliar a apreensão dos conhecimentos por parte dos alunos, o professor poderá propor
a formação de uma roda, onde todos possam jogar capoeira. Tal momento é
imprescindível, pois constitui o reconhecimento da capacidade de síntese e
recriação dos alunos.
Para
contribuir ainda mais com a aula, sugere-se que sejam usados instrumentos que
identifiquem musicalmente a capoeira, tais como: berimbau, caxixi e pandeiro.
Caso não haja os originais, eles podem ser construídos com materiais
alternativos, de modo que um utensílio pode virar um pandeiro; ou um cano,
arame e o fundo de uma garrafa plástica podem virar um berimbau. Os mais
variados espaços escolares podem servir para a realização dessa aula.
O
professor também poderá contextualizar a aula de capoeira sob o enfoque do
processo de marginalização e exclusão dos povos afro-descendentes, nos tempos
da escravatura. Os alunos podem criar jogos para representar os papéis de
capitão-do-mato e escravo, de modo que interpretem as contradições e injustiças
que havia e, também, a superação delas com a proposta de outras brincadeiras.
Espera-se
que o professor desenvolva um trabalho efetivo com seus alunos na disciplina de
Educação Física, cuja função social é contribuir para que ampliem sua
consciência corporal e alcancem novos horizontes, como sujeitos singulares e
coletivos.
O
papel da Educação Física é desmistificar formas arraigadas e não refletidas em
relação às diversas práticas e manifestações corporais historicamente
produzidas e acumuladas pelo ser humano. Prioriza-se na prática pedagógica o
conhecimento sistematizado, como oportunidade para reelaborar ideias e
atividades que ampliem a compreensão do estudante sobre os saberes produzidos
pela humanidade e suas implicações para a vida.
Enfim,
é preciso reconhecer que a dimensão corporal é resultado de experiências
objetivas, fruto de nossa interação social nos diferentes contextos em que se
efetiva, sejam eles a família, a escola, o trabalho e o lazer.
ENTENDIMENTO
ENCAMINHAMENTOS
METODOLÓGICOS
A
Educação Física tem a função de tornar os alunos capazes de reconhecer seu
corpo, tem uma identidade corporal própria e pensar sobre as práticas
corporais.
O
professor, assim, estrutura a forma de demonstrar o conhecimento sobre as
práticas corporais.
Assim
o aluno aumenta sua visão do mundo através da Cultura Corporal, fazendo com que
saia da cultura tecnicista. Mas o ensino se leva em conta aspectos
histórico-políticos.
O
conhecimento não existe somente na teoria, mas uma metodologia que estimule a
expressão corporal, aprendizado das técnicas e reflexão do movimento corporal.
Quando
se trabalhar com jogos, o professor do Ensino Fundamental apresenta várias
modalidades esportivas, e através delas e com a mudança de regras, existe uma
recriação de acordo com a sua região. Já no Ensino Médio o professor pode
trabalhar envolvendo dimensões sociais.
No
Ensino Básico, a proposta metodológica deve ser através daquilo que o aluno
trás em sua carga de vida, ou seja, uma leitura da realidade.
Depois
de descobrir o que cada sabe sobre o assunto, o professor desafia os alunos com
acontecimentos do cotidiano.
Após
isso, o professor demonstra o conteúdo sistematizado, para que possam assimilar
e recriar o conteúdo.
Por
fim de um processo de algumas aulas, o professor pode fazer com que os alunos
recriem um jogo,
O
papel da Educação Física e mudar o que as pessoas pensam sobre as práticas
corporais. Se da ênfase no conhecimento sistematizado, para que possam avaliar
e recriar conteúdos que aumentem sua compreensão sobre um assunto.
Mas,
é necessário reconhecer que a dimensão corporal é obtida através de nossas
experiências.
MOVIMENTO
INTRODUÇÃO
O
movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As
crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle
sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de
interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam,
brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre
novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as
crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as
possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento
humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço:
constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio
físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de
seu teor expressivo.
As
maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e
da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido
construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades
corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da
história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens,
constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes
manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as
brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes
gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade.
Ao
brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se
apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas.
Nesse
sentido, as instituições de educação infantil devem favorecer um ambiente
físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo
tempo seguras para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador
for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimentos
acerca de si mesmas, dos outros e do meio em que vivem.
O
trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do
ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da
motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais
implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a
ampliação da cultura corporal de cada criança.
PRESENÇA DO MOVIMENTO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: IDÉIAS E PRÁTICAS CORRENTES
A
diversidade de práticas pedagógicas que caracterizam o universo da educação
infantil reflete diferentes concepções quanto ao sentido e funções atribuídas
ao movimento no cotidiano das creches, pré-escolas e instituições afins.
É
muito comum que, visando garantir uma atmosfera de ordem e de harmonia, algumas
práticas educativas procurem simplesmente suprimir o movimento, impondo às
crianças de diferentes idades rígidas restrições posturais. Isso se traduz, por
exemplo, na imposição de longos momentos de espera — em fila ou sentada — em
que a criança deve ficar quieta, sem se mover; ou na realização de atividades
mais sistematizadas, como de desenho, escrita ou leitura, em que qualquer
deslocamento, gesto ou mudança de posição pode ser visto como desordem ou
indisciplina. Até junto aos bebês essa prática pode se fazer presente, quando,
por exemplo, são mantidos no berço ou em espaços cujas limitações os impedem de
expressar-se ou explorar seus recursos motores.
Além
do objetivo disciplinar apontado, a permanente exigência de contenção motora
pode estar baseada na idéia de que o movimento impede a concentração e a
atenção da criança, ou seja, que as manifestações motoras atrapalham a
aprendizagem. Todavia, a julgar pelo papel que os gestos e as posturas
desempenham junto à percepção e à representação, conclui-se que, ao contrário,
é a impossibilidade de mover-se ou de gesticular que pode dificultar o
pensamento e a manutenção da atenção.
Em
linhas gerais, as conseqüências dessa rigidez podem apontar tanto para o
desenvolvimento de uma atitude de passividade nas crianças como para a
instalação de um clima de hostilidade, em que o professor tenta, a todo custo,
conter e controlar as manifestações motoras infantis. No caso em que as
crianças, apesar das restrições, mantêm o vigor de sua gestualidade, podem ser
freqüentes situações em que elas percam completamente o controle sobre o corpo,
devido ao cansaço provocado pelo esforço de contenção que lhes é exigido.
Outras
práticas, apesar de também visarem ao silêncio e à contenção de que dependeriam
a ordem e a disciplina, lançam mão de outros recursos didáticos, propondo, por
exemplo, seqüências de exercícios ou de deslocamentos em que a criança deve
mexer seu corpo, mas desde que em estrita conformidade a determinadas
orientações. Ou ainda reservando curtos intervalos em que a criança é
solicitada a se mexer, para dispender sua energia física. Essas práticas, ao
permitirem certa mobilidade às crianças, podem até ser eficazes do ponto de
vista da manutenção da “ordem”, mas limitam as possibilidades de expressão da
criança e tolhem suas iniciativas próprias, ao enquadrar os gestos e
deslocamentos a modelos predeterminados ou a momentos específicos.
No
berçário, um exemplo típico dessas práticas são as sessões de estimulação
individual de bebês, que com freqüência são precedidas por longos períodos de
confinamento ao berço. Nessas atividades, o professor manipula o corpo do bebê,
esticando e encolhendo seus membros, fazendo-os descer ou subir de colchonetes
ou almofadas, ou fazendo-os sentar durante um tempo determinado. A forma
mecânica pela qual são feitas as manipulações, além de desperdiçarem o rico
potencial de troca afetiva que trazem esses momentos de interação corporal,
deixam a criança numa atitude de passividade, desvalorizando as descobertas e
os desafios que ela poderia encontrar de forma mais natural, em outras
situações.
O
movimento para a criança pequena significa muito mais do que mexer partes do
corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se expressa e se comunica por meio
dos gestos e das mímicas faciais e interage utilizando fortemente o apoio do
corpo. A dimensão corporal integra-se ao conjunto da atividade da criança. O
ato motor faz-se presente em suas funções expressiva, instrumental ou de
sustentação às posturas e aos gestos.
Quanto
menor a criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o significado de
seus movimentos e expressões, auxiliando-a na satisfação de suas necessidades.
À medida que a criança cresce, o desenvolvimento de novas capacidades
possibilita que ela atue de maneira cada vez mais independente sobre o mundo à
sua volta, ganhando maior autonomia em relação aos adultos.
Pode-se
dizer que no início do desenvolvimento predomina a dimensão subjetiva da
motricidade, que encontra sua eficácia e sentido principalmente na interação com
o meio social, junto às pessoas com quem a criança interage diretamente. É
somente aos poucos que se desenvolve a dimensão objetiva do movimento, que
corresponde às competências instrumentais para agir sobre o espaço e meio
físico.
O
bebê que se mexe descontroladamente ou que faz caretas provocadas por
desconfortos terá na mãe e nos adultos responsáveis por seu cuidado e educação
parceiros fundamentais para a descoberta dos significados desses movimentos.
Aos poucos, esses adultos saberão que determinado torcer de corpo significa que
o bebê está, por exemplo, com cólica, ou que determinado choro pode ser de
fome. Assim, a primeira função do ato motor está ligada à expressão, permitindo
que desejos, estados íntimos e necessidades se manifestem.
Mas
é importante lembrar que a função expressiva não é exclusiva do bebê. Ela
continua presente mesmo com o desenvolvimento das possibilidades instrumentais
do ato motor. É freqüente, por exemplo, a brincadeira de luta entre crianças de
cinco ou seis anos, situação em que se pode constatar o papel expressivo dos
movimentos, já que essa brincadeira envolve intensa troca afetiva.
A
externalização de sentimentos, emoções e estados íntimos poderão encontrar na
expressividade do corpo um recurso privilegiado. Mesmo entre adultos isso
aparece freqüentemente em conversas, em que a expressão facial pode deixar
transparecer sentimentos como desconfiança, medo ou ansiedade, indicando muitas
vezes algo oposto ao que se está falando. Outro exemplo é como os gestos podem
ser utilizados intensamente para pontuar a fala, por meio de movimentos das
mãos e do corpo.
Cada
cultura possui seu jeito próprio de preservar esses recursos expressivos do
movimento, havendo variações na importância dada às expressões faciais, aos
gestos e às posturas corporais, bem como nos significados atribuídos a eles.
É
muito grande a influência que a cultura tem sobre o desenvolvimento da
motricidade infantil, não só pelos diferentes significados que cada grupo
atribui a gestos e expressões faciais, como também pelos diferentes movimentos
aprendidos no manuseio de objetos específicos presentes na atividade cotidiana,
como pás, lápis, bolas de gude, corda, estilingue etc.
Os
jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu lado,
a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades
privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e significado.
Dado
o alcance que a questão motora assume na atividade da criança, é muito
importante que, ao lado das situações planejadas especialmente para trabalhar o
movimento em suas várias dimensões, a instituição reflita sobre o espaço dado
ao movimento em todos os momentos da rotina diária, incorporando os diferentes
significados que lhe são atribuídos pelos familiares e pela comunidade.
Nesse
sentido, é importante que o trabalho incorpore a expressividade e a mobilidade
próprias às crianças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que todos se
mantêm quietos e calados, mas sim um grupo em que os vários elementos se
encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os
deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse envolvimento
não podem ser entendidos como dispersão ou desordem, e sim como uma
manifestação natural das crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo
das manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o professor a organizar
melhor a sua prática, levando em conta as necessidades das crianças.
ENTENDIMENTO
O
movimento não é usado apenas para se locomover, principalmente quando criança o
movimento é utilizado como forma de linguagem, permitindo que a criança
interaja com o mundo. Cabe à instituição de educação fornecer ambiente seguro,
acolhedor e desafiador, para a criança interagir com o ambiente e adquirir
conhecimento. As restrições de movimento na tentativa da obtenção de ordem e
disciplina podem causar atitudes de passividade na criança e um ambiente de
hostilidade.
A
cultura exerce uma grande influencia sob o desenvolvimento da motricidade da
criança. Jogos, brincadeiras, danças e praticas esportiva, revelam a cultura
corporal de cada grupo social. É importante que o trabalho do professor agregue
a expressividade e a mobilidade própria das crianças, fazendo com que exista
uma mistura entre as diferentes culturas.
CONTEÚDOS
A
organização dos conteúdos para o trabalho com movimento deverá respeitar as
diferentes capacidades das crianças em cada faixa etária, bem como as diversas
culturas corporais presentes nas muitas regiões do país.
Os
conteúdos deverão priorizar o desenvolvimento das capacidades expressivas e
instrumentais do movimento, possibilitando a apropriação corporal pelas
crianças de forma que possam agir com cada vez mais intencionalidade. Devem ser
organizados num processo contínuo e integrado que envolve múltiplas
experiências corporais, possíveis de serem realizadas pela criança sozinha ou
em situações de interação. Os diferentes espaços e materiais, os diversos
repertórios de cultura corporal expressos em brincadeiras, jogos, danças,
atividades esportivas e outras práticas sociais são algumas das condições
necessárias para que esse processo ocorra.
Os
conteúdos estão organizados em dois blocos. O primeiro refere-se às possibilidades
expressivas do movimento e o segundo ao seu caráter instrumental.
EXPRESSIVIDADE
A
dimensão subjetiva do movimento deve ser contemplada e acolhida em todas as
situações do dia-a-dia na instituição de educação infantil, possibilitando que
as crianças utilizem gestos, posturas e ritmos para se expressar e se
comunicar. Além disso, é possível criar, intencionalmente, oportunidades para
que as crianças se apropriem dos significados expressivos do movimento.
A
dimensão expressiva do movimento engloba tanto as expressões e comunicação de
idéias, sensações e sentimentos pessoais como as manifestações corporais que
estão relacionadas com a cultura. A dança é uma das manifestações da cultura
corporal dos diferentes grupos sociais que está intimamente associada ao
desenvolvimento das capacidades expressivas das crianças. A aprendizagem da
dança pelas crianças, porém, não pode estar determinada pela marcação e
definição de coreografias pelos adultos.
CRIANÇAS
DE ZERO A TRÊS ANOS
Reconhecimento
progressivo de segmentos e elementos do próprio corpo por meio da exploração,
das brincadeiras, do uso do espelho e da interação com os outros.
Expressão
de sensações e ritmos corporais por meio de gestos, posturas e da linguagem
oral.
ORIENTAÇÕES
DIDÁTICAS
Atividades
como o banho e a massagem são oportunidades privilegiadas de explorar o próprio
corpo, assim como de experimentar diferentes sensações, inclusive junto com
outras crianças.
Brincadeiras
que envolvam o canto e o movimento, simultaneamente, possibilitam a percepção
rítmica, a identificação de segmentos do corpo e o contato físico. A cultura
popular infantil é uma riquíssima fonte na qual se pode buscar cantigas e
brincadeiras de cunho afetivo nas quais o contato corporal é o seu principal
conteúdo, como no seguinte exemplo: “& Conheço um jacaré &que gosta de
comer. & Esconda a sua perna, & senão o jacaré come sua perna e o seu
dedão do pé &”. Os jogos e brincadeiras que envolvem as modulações de voz,
as melodias e a percepção rítmica — tão características das canções de ninar,
associadas ao ato de embalar, e aos brincos, brincadeiras ritmadas que combinam
gestos e música — podem fazer parte de seqüências de atividades. Essas
brincadeiras, ao propiciar o contato corporal da criança com o adulto, auxiliam
o desenvolvimento de suas capacidades expressivas. Um exemplo é a variante
brasileira de um brinco de origem portuguesa no qual o adulto segura a criança
em pé ou sentada em seu colo e imita o movimento do serrador enquanto canta:
“& Serra, serra, serrador, & Serra o papo do vovô. & Serra um,
serra dois, & serra três, serra quatro, &serra cinco, serra seis,
&serra sete, serra oito, & serra nove, serra dez! &”.
É
importante que nos berçários e em cada sala haja um espelho grande o suficiente
para permitir que várias crianças possam se ver refletidas ao mesmo tempo,
oferecendo a elas a possibilidade de vivenciar e compartilhar descobertas
fundamentais. O espelho deve estar situado de forma a permitir a visão do corpo
inteiro, ao lado do qual poderão ser colocados colchonetes, tapetes, almofadas,
brinquedos variados etc. Alguns materiais, em contato com o corpo da criança,
podem proporcionar experiências significativas no que diz respeito à
sensibilidade corporal. As características físicas de fluidez, textura, temperatura
e plasticidade da terra, da areia e da água propiciam atividades sensíveis
interessantes, como o banho de esguicho, construir castelos com areia, fazer
bolo de lama etc. Outra sugestão é o uso de tecidos de diferentes texturas e
pesos, ou materiais de temperaturas diferentes, em brincadeiras prazerosas como
esconder sob um pano grosso; fazer cabanas; túneis e labirintos construídos com
filó etc.
As
mímicas faciais e gestos possuem um papel importante na expressão de
sentimentos e em sua comunicação. É importante que a criança dessa faixa etária
conheça suas próprias capacidades expressivas e aprenda progressivamente a
identificar as expressões dos outros, ampliando sua comunicação. Brincar de
fazer caretas ou de imitar bichos propicia a descoberta das possibilidades
expressivas de si próprio e dos outros.
Participar
de brincadeiras de roda ou de danças circulares, como “A Galinha do Vizinho” ou
“Ciranda, Cirandinha”, favorecem o desenvolvimento da noção de ritmo individual
e coletivo, introduzindo as crianças em movimentos inerentes à dança.
Brincadeiras tradicionais como “A Linda Rosa Juvenil”, na qual a cada verso
corresponde um gesto, proporcionam também a oportunidade de descobrir e
explorar movimentos ajustados a um ritmo, conservando fortemente a possibilidade
de expressar emoções.
O
professor precisa cuidar de sua expressão e posturas corporais ao se relacionar
com as crianças. Não deve esquecer que seu corpo é um veículo expressivo,
valorizando e adequando os próprios gestos, mímicas e movimentos na comunicação
com as crianças, como quando as acolhe no seu colo, oferece alimentos ou as
toca na hora do banho. O professor, também, é modelo para as crianças,
fornecendo-lhes repertório de gestos e posturas quando, por exemplo, conta
histórias pontuando idéias com gestos expressivos ou usa recursos vocais para
enfatizar sua dramaticidade. Conhecer jogos e brincadeiras e refletir sobre os
tipos de movimentos que envolvem é condição importante para ajudar as crianças
a desenvolverem uma motricidade harmoniosa.
CRIANÇAS
DE QUATRO A SEIS ANOS
Utilização
expressiva intencional do movimento nas situações cotidianas e em suas
brincadeiras.
Percepção
de estruturas rítmicas para expressar-se corporalmente por meio da dança,
brincadeiras e de outros movimentos.
Valorização
e ampliação das possibilidades estéticas do movimento pelo conhecimento e
utilização de diferentes modalidades de dança.
Percepção
das sensações, limites, potencialidades, sinais vitais e integridade do próprio
corpo.
ORIENTAÇÕES
DIDÁTICAS
O
espelho continua a se fazer necessário para a construção e afirmação da imagem
corporal em brincadeiras nas quais meninos e meninas poderão se fantasiar,
assumir papéis, se olharem. Nesse sentido, um conjunto de maquiagem, fantasias
diversas, roupas velhas de adultos, sapatos, bijuterias e acessórios são ótimos
materiais para o faz-de-conta nessa faixa etária. Com eles, e diante do
espelho, a criança consegue perceber que sua imagem muda, sem que modifique a
sua pessoa.
Pode-se
propor alguns jogos e brincadeiras envolvendo a interação, a imitação e o
reconhecimento do corpo, como “Siga o Mestre” e “Seu Lobo”.
O
professor pode propor atividades em que as crianças, de forma mais sistemática,
observem partes do próprio corpo ou de seus amigos, usando-as como modelo,
como, por exemplo, para moldar, pintar ou desenhar. Essa possibilidade pode ser
aprofundada, se forem pesquisadas também obras de arte em que partes do corpo
foram retratadas ou esculpidas.
É
importante lembrar que nesse tipo de trabalho não há necessidade de se
estabelecer uma hierarquia prévia entre as partes do corpo que serão
trabalhadas. Pensar que para a criança é mais fácil começar a perceber o
próprio corpo pela cabeça, depois pelo tronco e por fim pelos membros, por
exemplo, pode não corresponder à sua experiência real. Nesse sentido, o
professor precisa estar bastante atento aos conhecimentos prévios das crianças
acerca de si mesmas e de sua corporeidade, para adequar seus projetos e a
melhor maneira de trabalhá-los com o grupo de crianças.
O
reconhecimento dos sinais vitais e de suas alterações, como a respiração, os
batimentos cardíacos, assim como as sensações de prazer, podem ser trabalhados
com as crianças. Perceber esses sinais, refletir e conversar sobre o que
acontece quando as crianças correm, rolam ou são massageadas pode garantir a
ampliação do conhecimento sobre seu corpo e expressão do movimento de forma
mais harmoniosa.
Representar
experiências observadas e vividas por meio do movimento pode se transformar
numa atividade bastante divertida e significativa para as crianças. Derreter
como um sorvete, flutuar como um floco de algodão, balançar como as folhas de
uma árvore, correr como um rio, voar como uma gaivota, cair como um raio etc.,
são exercícios de imaginação e criatividade que reiteram a importância do
movimento para expressar e comunicar idéias e emoções.
No
Brasil existem inúmeras danças, folguedos, brincadeiras de roda e cirandas que,
além do caráter de socialização que representam, trazem para a criança a
possibilidade de realização de movimentos de diferentes qualidades expressivas
e rítmicas. A roda otimiza a percepção de um ritmo comum e a noção de conjunto.
Há muitas brincadeiras de roda, como o coco de roda alagoano, o bumba-meu-boi
maranhense, a catira paulista, o maracatu e o frevo pernambucanos, a chula
rio-grandense, as cirandas, as quadrilhas, entre tantas outras. O fato de todas
essas manifestações expressivas serem realizadas em grupo acrescentam ao
movimento um sentido socializador e estético.
EQUILÍBRIO E COORDENAÇÃO
As
ações que compõem as brincadeiras envolvem aspectos ligados à coordenação do
movimento e ao equilíbrio. Por exemplo, para saltar um obstáculo, as crianças
precisam coordenar habilidades motoras como velocidade, flexibilidade e força,
calculando a maneira mais adequada de conseguir seu objetivo. Para empinar uma
pipa, precisam coordenar a força e a flexibilidade dos movimentos do braço com
a percepção espacial e, se for preciso correr, a velocidade etc.
As
instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e
brincadeiras que contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o
equilíbrio das crianças. Os jogos motores de regras trazem também a
oportunidade de aprendizagens sociais, pois ao jogar, as crianças aprendem a
competir, a colaborar umas com as outras, a combinar e a respeitar regras.
CRIANÇAS
DE ZERO A TRÊS ANOS
Exploração
de diferentes posturas corporais, como sentar-se em diferentes inclinações,
deitar-se em diferentes posições, ficar ereto apoiado na planta dos pés com e
sem ajuda etc.
Ampliação
progressiva da destreza para deslocar-se no espaço por meio da possibilidade
constante de arrastar-se, engatinhar, rolar, andar, correr, saltar etc.
Aperfeiçoamento
dos gestos relacionados com a preensão, o encaixe, o traçado no desenho, o
lançamento etc., por meio da experimentação e utilização de suas habilidades
manuais em diversas situações cotidianas.
ORIENTAÇÕES
DIDÁTICAS
Quanto
menor a criança, maior é a responsabilidade do adulto de lhe proporcionar
experiências posturais e motoras variadas. Para isso ele deve modificar as
posições das crianças quando sentadas ou deitadas; observar os bebês para
descobrir em que posições ficam mais ou menos confortáveis; tocar, acalentar e
massagear freqüentemente os bebês para que eles possam perceber partes do corpo
que não alcançam sozinhos.
O
professor pode organizar o ambiente com materiais que propiciem a descoberta e
exploração do movimento. Materiais que rolem pelo chão, como cilindros e bolas
de diversos tamanhos, sugerem às crianças que se arrastem, engatinhem ou
caminhem atrás deles ou ainda que rolem sobre eles. As bolas podem ser
chutadas, lançadas, quicadas etc. Túneis de pano sugerem às crianças que se
abaixem e utilizem a força dos músculos dos braços e das pernas para percorrer
seu interior. Móbiles e outros penduricalhos sugerem que as crianças exercitem
a posição ereta, nas tentativas de erguer-se para tocá-los. Almofadas
organizadas num ambiente com livros ou gibis e brinquedos convidam as crianças
a sentarem ou deitarem, concentradas nas suas atividades.
O
professor pode organizar atividades que exijam o aperfeiçoamento das
capacidades motoras das crianças, ou que lhes tragam novos desafios,
considerando seus progressos. Um bom exemplo são as organizações de circuitos no
espaço externo ou interno de modo a sugerir às crianças desafios corporais
variados. Podem-se criar, com pneus, bancos, tábuas de madeira etc., túneis,
pontes, caminhos, rampas e labirintos nos quais as crianças podem saltar para
dentro, equilibrar-se, andar, escorregar etc.
Algumas
brincadeiras tradicionais podem contribuir para a qualidade das experiências
motoras e posturais das crianças, como, por exemplo, a brincadeira de estátua
cuja regra principal é a de que as crianças fiquem paradas como estátua a um
sinal, promovendo a manutenção do tônus muscular durante algum tempo.
CRIANÇAS
DE QUATRO A SEIS ANOS
Participação
em brincadeiras e jogos que envolvam correr, subir, descer, escorregar,
pendurar-se, movimentar-se, dançar etc., para ampliar gradualmente o
conhecimento e controle sobre o corpo e o movimento.
Utilização
dos recursos de deslocamento e das habilidades de força, velocidade,
resistência e flexibilidade nos jogos e brincadeiras dos quais participa.
Valorização
de suas conquistas corporais.
Manipulação
de materiais, objetos e brinquedos diversos para aperfeiçoamento de suas
habilidades manuais.
ORIENTAÇÕES
DIDÁTICAS
É
importante possibilitar diferentes movimentos que aparecem em atividades como
lutar, dançar, subir e descer de árvores ou obstáculos, jogar bola, rodar
bambolê etc. Essas experiências devem ser oferecidas sempre, com o cuidado de
evitar enquadrar as crianças em modelos de comportamento estereotipados,
associados ao gênero masculino e feminino, como, por exemplo, não deixar que as
meninas joguem futebol ou que os meninos rodem bambolê.
A
brincadeira de pular corda, tão popular no Brasil, propõe às crianças uma
pesquisa corporal intensa, tanto em relação às diferentes qualidades de
movimento que sugere (rápidos ou lentos; pesados ou leves) como também em
relação à percepção espaço-temporal, já que, para “entrar” na corda, as
crianças devem sentir o ritmo de suas batidas no chão para perceber o momento
certo. A corda pode também ser utilizada em outras brincadeiras desafiadoras.
Ao ser amarrada no galho de uma árvore, possibilita à criança pendurar-se e
balançar-se; ao ser esticada em diferentes alturas, permite que as crianças se
arrastem, agachem etc.
Os
primeiros jogos de regras são valiosos para o desenvolvimento de capacidades corporais
de equilíbrio e coordenação, mas trazem também a oportunidade, para as
crianças, das primeiras situações competitivas, em que suas habilidades poderão
ser valorizadas de acordo com os objetivos do jogo. É muito importante que o
professor esteja atento aos conflitos que possam surgir nessas situações,
ajudando as crianças a desenvolver uma atitude de competição de forma saudável.
Nesta faixa etária, o professor é quem ajudará as crianças a combinar e cumprir
regras, desenvolvendo atitudes de respeito e cooperação tão necessárias, mais
tarde, no desenvolvimento das habilidades desportivas.
São
muitos os jogos existentes nas diferentes regiões do Brasil que podem ser
utilizados para esse fim; cabe ao professor levantar junto a crianças,
familiares e comunidade aqueles mais significativos. As brincadeiras e jogos
envolvem a descoberta e a exploração de capacidades físicas e a expressão de
emoções, afetos e sentimentos. Além de alegria e prazer, algumas vezes a
exposição de seu corpo e de seus movimentos podem gerar vergonha, medo ou
raiva. Isso também precisa ser considerado pelo professor para que ele possa
ajudar as crianças a lidar de forma positiva com limites e possibilidades do
próprio corpo.
As
diferentes atividades que ocorrem nas instituições requerem das crianças
posturas corporais distintas. Cabe ao professor organizar o ambiente de tal
forma a garantir a postura mais adequada para cada atividade, não as
restringindo a modelos estereotipados.
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O
PROFESSOR
É
muito importante que o professor perceba os diversos significados que pode ter
a atividade motora para as crianças. Isso poderá contribuir para que ele possa
ajudá-las a ter uma percepção adequada de seus recursos corporais, de suas
possibilidades e limitações sempre em transformação, dando-lhes condições de se
expressarem com liberdade e de aperfeiçoarem suas competências motoras.
O
professor deve refletir sobre as solicitações corporais das crianças e sua
atitude diante das manifestações da motricidade infantil, compreendendo seu
caráter lúdico e expressivo. Além de refletir acerca das possibilidades
posturais e motoras oferecidas no conjunto das atividades, é interessante
planejar situações de trabalho voltadas para aspectos mais específicos do
desenvolvimento corporal e motor. Nessa perspectiva, o professor deverá avaliar
constantemente o tempo de contenção motora ou de manutenção de uma mesma
postura de maneira a adequar as atividades às possibilidades das crianças de
diferentes idades.
Outro
ponto de reflexão diz respeito à lateralidade, ou seja, à predominância para o
uso de um lado do corpo. Durante o processo de definição da lateralidade, as
crianças podem usar, indiscriminadamente, ambos os lados do corpo.
Espontaneamente a criança irá manifestar a preferência pelo uso de uma das
mãos, definindo-se como destra ou canhota. Assim, cabe ao professor acolher
suas preferências, sem impor-lhes, por exemplo, o uso da mão direita.
A
organização do ambiente, dos materiais e do tempo visam a auxiliar que as
manifestações motoras das crianças estejam integradas nas diversas atividades
da rotina. Para isso, os espaços externos e internos devem ser amplos o
suficiente para acolher as manifestações da motricidade infantil. Os objetos,
brinquedos e materiais devem auxiliar as atividades expressivas e instrumentais
do movimento.
ORGANIZAÇÃO DO TEMPO
Os
conteúdos relacionados ao movimento deverão ser trabalhados inseridos na
rotina. As atividades que buscam valorizar o movimento nas suas dimensões
expressivas, instrumentais e culturais podem ser realizadas diariamente de
maneira planejada ou não.
Também
podem ser realizados projetos que integrem vários conhecimentos ligados ao
movimento. A apresentação de uma dança tradicional, por exemplo, pode-se
constituir em um interessante projeto para as crianças maiores, quando
necessitam:
Pesquisar
diferentes danças tradicionais brasileiras para selecionar aquela que mais
interessar às crianças;
Informar-se
sobre a origem e história da dança selecionada;
Desenvolver
recursos expressivos e aprender os passos para a dança;
Confeccionar
as roupas necessárias para a apresentação;
Planejar
a apresentação, confeccionando cartazes, convites etc.
Da
mesma forma, podem ser desenvolvidos projetos envolvendo jogos e brincadeiras
de roda, circuitos motores etc.
OBSERVAÇÃO, REGISTRO E
AVALIAÇÃO FORMATIVA
Para
que se tenha condições reais de avaliar se uma criança está ou não
desenvolvendo uma motricidade saudável, faz-se necessário refletir sobre o
ambiente da instituição e o trabalho ali desenvolvido: ele é suficientemente
desafiador? Será que as crianças não ficam muito tempo sentadas, sem
oportunidades de exercitar outras posturas? As atividades oferecidas propiciam
situações de interação?
A
avaliação do movimento deve ser contínua, levando em consideração os processos
vivenciados pelas crianças, resultado de um trabalho intencional do professor.
Deverá constituir-se em instrumento para a reorganização de objetivos,
conteúdos, procedimentos, atividades e como forma de acompanhar e conhecer cada
criança e grupo.
A
observação cuidadosa sobre cada criança e sobre o grupo fornece elementos que
podem auxiliar na construção de uma prática que considere o corpo e o movimento
das crianças.
Devem
ser documentados os aspectos referentes a expressividade do movimento e sua
dimensão instrumental. É recomendável que o professor atualize,
sistematicamente, suas observações, documentando mudanças e conquistas.
São
consideradas como experiências prioritárias para a aprendizagem do movimento
realizada pelas crianças de zero a três anos: uso de gestos e ritmos corporais
diversos para expressar-se; deslocamentos no espaço sem ajuda. Para que isso
ocorra é necessário que sejam oferecidas condições para que as crianças
explorem suas capacidades expressivas, aceitando com confiança desafios
corporais.
A
partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tenham tido muitas
oportunidades, na instituição de educação infantil, de vivenciar experiências
envolvendo o movimento, pode-se esperar que as crianças o reconheçam e o utilizem
como linguagem expressiva e participem de jogos e brincadeiras envolvendo
habilidades motoras diversas.
É
importante informar sempre as crianças acerca de suas competências. Desde
pequenas, a valorização de seu esforço e comentários a respeito de como estão
construindo e se apropriando desse conhecimento são atitudes que as encorajam e
situam com relação à própria aprendizagem. É sempre bom lembrar que seu empenho
e suas conquistas devem ser valorizados em função de seus progressos e do
próprio esforço, evitando colocá-las em situações de comparação.
ENTENDIMENTO
A
dimensão subjetiva deve ser trabalhada primordialmente e em todas as situações
do dia-a-dia da instituição de educação infantil, para que as crianças tenham a
oportunidade de utilizar dos gestos, posturas e ritmos, para se expressar e se
comunicar. As instituições devem oferecer as crianças, jogos motores e
brincadeiras que atendam de forma progressiva a coordenação dos movimentos e o
equilíbrio das crianças.
É
importante que o professor perceba os significados que a atividade motora possa
ter para as crianças, podendo contribuir para a obtenção de uma concepção
adequada dos seus recursos corporais, suas possibilidades e limitações sempre
em transformação, dando-lhes condições de se expressarem e aperfeiçoar suas
competências motoras. O professor deve trabalhar a motricidade infantil, mas de
forma lúdica e expressiva. Alem disso é interessante realizar um trabalho
voltado para aspectos específicos do desenvolvimento corporal e motor da criança,
incluindo a lateralidade.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA
ESCOLARIZAÇÃO DA INFÂNCIA: BREVE HISTÓRICO...
A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996), que define e
regulariza o sistema de educação brasileiro, apresenta no capítulo 2 – artigo
26, o seguinte parágrafo (3º): “A
educação física, integrada à proposta
pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando às faixas etárias e as
condições da população escolar (...)”. No ano de 2003, alterase a redação
desta lei para afirmação de que a Educação Física é componente curricular obrigatório da Educação Básica, por
meio da Lei n.o 10793/03. Como podemos observar, a Educação Física está
legalmente inserida na Educação Básica, consequentemente, é um componente
curricular obrigatório que deverá se ajustar às especificidades de educação da
criança e do processo de escolarização da infância nos seus diferentes níveis
de ensino. Portanto, pensar a Educação Física no âmbito dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental é, nos dias de hoje, um desafio, devido à necessidade de
abordarmos a sua articulação com os outros níveis de ensino (Educação Infantil
e Anos Finais do Ensino Fundamental), para superar os distanciamentos da
Educação Básica e, simultaneamente, respeitar as especificidades de cada etapa
da escolarização.
Em
um estudo sobre a escolarização do corpo infantil observamos que a necessidade
de uma educação física para a infância e, consequentemente, a elaboração de
propostas para a educação do físico na escola, surgiu no século
XVIII devido à preocupação de pensadores da época com a conservação da criança
para a constituição de um ideário de infância.
A
expressão educação física foi
utilizada e institucionalizada na educação da infância, devido às orientações
de pensadores do século XVII, principalmente John Locke e sua proposta
pedagógica sobre a importância do físico na dimensão da educação desencadeia a
sistematização da educação física pelos pedagogos do século XVIII (NEGRẤO,
2008). Estes fatos nos levam a concluir que é no século XVIII que a educação do físico passa a integrar a
educação escolar e a educação da infância torna-se uma prioridade de seus
pensadores, dentre eles Rousseau e Locke.
Rousseau,
nessa época, combateu ideias que prevaleciam há muito tempo sobre a educação da
criança, entre elas, a de que a teoria e a prática educacional na infância
deveriam focalizar os interesses do adulto e da vida adulta. Desta maneira,
chamou a atenção para as necessidades da criança em cada idade e as condições
de seu desenvolvimento. Insistiu, portanto, em procurar conhecer,
profundamente, as características da infância para que a educação da criança
fosse melhor. (GARANHANI; MORO, 2000). Para isto, publica a obra Emílio (uma
proposta educacional) e, segundo Cerisara (1990), ao abordar nesta obra o corpo
infantil, justifica a necessidade de uma educação física para a infância,
invocando autores que são unânimes em confirmar a importância do exercício
corporal na educação das crianças, entre eles estava Locke.
Rousseau,
então, recomenda, na educação da infância, o exercício dos órgãos e dos
sentidos, entendo-os como aspectos que desenvolvidos se transformarão em
instrumentos para a criança construir o seu conhecimento (...). Portanto, para
Rousseau, o entendimento humano passa pelos sentidos, sendo a primeira razão do
homem, a razão sensitiva, suporte da razão intelectual (GARANHANI; MORO, 2000,
p.112-113).
No
início do século XIX, a educação do
físico se configurava em cuidados com o corpo e exercícios físicos, por
meio da Ginástica – “atividades que se encontravam disponíveis
naquele contexto e que se
apresentavam relativamente sistematizadas para serem incorporadas ao espaço
escolar” (NEGRẤO, 2008, p.62).
Segundo
Soares (2000), a Ginástica abarcava
uma enorme gama de práticas corporais, sendo exercícios militares de preparação
para a guerra, jogos populares ou da nobreza, acrobacias, saltos, corridas,
equitação, esgrimas, danças e canto. Portanto, em suas primeiras
sistematizações na sociedade européia, o termo Ginástica compreendia diferentes
formas de práticas corporais.
A
criação e a institucionalização dos Jardins de Infância, no século XIX,
influencia a maneira de pensar a educação
do físico das crianças pequenas. Neste cenário, Froebel, idealizador dos
Jardins de Infância, ao perceber as vantagens intelectuais e morais dos
brinquedos e dos jogos infantis, para além do
desenvolvimento físico, defende a espontaneidade e a ludicidade na educação da
infância (tendência lúdico-espontânea) e os utiliza para a sistematização
pedagógica de atividades que envolvessem a movimentação do corpo. Este
pensamento influencia os anos iniciais do nível de ensino posterior aos Jardins
de Infância (o atual Ensino Fundamental),
(…)
mas é interessante ressaltar que o objetivo desta sistematização pedagógica
ainda se dá como condição para o desenvolvimento da razão intelectual na
infância, reforçando, portanto, no século XIX, uma preocupação em escolarizar o
corpo infantil, como favorecimento à educação do pensamento da criança”
(GARANHANI; MORO, 2000, p.114).
Nesse
momento histórico, os brinquedos e os
jogos infantis tomam um lugar de destaque na escolarização da infância e
a tendência lúdico-espontânea, que norteava a educação das crianças, passa
também a nortear a Educação Física presente nos anos iniciais da educação
escolar.
No
final do século XIX e início do século XX ocorre, em vários países europeus,
uma expansão de experiências pedagógicas inovadoras para a educação das crianças,
com base em estudos científicos de características biológicas e psicológicas.
Estas experiências mobilizavam a valorização da movimentação do corpo na
educação sensorial e intelectual da infância e, com o objetivo de dar suporte à
aquisição e ao domínio das linguagens oral e escrita, passam os movimentos do
corpo a ter destaque nas orientações curriculares dos anos iniciais da
escolarização obrigatória.
No
Brasil, a escolarização tem como marco o período imperial e Ferreira Filho
(apud Berto, Ferreira Neto e Schneider, 2008) nos conta que o primeiro artigo
da Lei de 15 de novembro de 1827, que versa sobre a instrução primária, aponta
para a necessidade de implantação das escolas de primeiras letras.
Essa
lei é contemporânea do fortalecimento de uma perspectiva político-cultural para
a construção da nação brasileira e do Estado Nacional para qual a instrução era
uma das principais formas de civilizar o povo brasileiro e arregimentá-lo para
um projeto de país autônomo, mas também dotar o Estado de condições de governo
(BERTO; FERREIRA NETO; SCHNEIDER, 2008, p.18).
Neste
momento sociopolítico a escolarização da infância brasileira se organiza e
procura atender as peculiaridades de cada região do País. “No entanto, o estabelecimento de um método
ainda dependeria da construção dos
espaços próprios para a escola, o que somente ocorre no Brasil na última década do século XIX” (FARIA
FILHO apud BERTO; FERREIRA NETO; SCHNEIDER, 2008,
p.19);
No
século XX, as décadas de 1960/1970 constituíram-se o marco de transformação na
educação escolar da infância brasileira devido a debates que ocorreram sobre as
carências relacionadas à saúde e a educação das crianças para o sucesso na
escolarização.
(...)
as transformações profundas na escolarização da infância ocorreram nos anos 60,
desencadeadas, segundo Kramer (1987) e Spodek e Brown (1996), por uma série de
fatores sociais, políticos, econômicos e ideológicos, sendo um deles o
interesse renovado da comunidade científica sobre o papel do meio no
desenvolvimento humano. Nessa época, as pesquisas que tinham como tema a
educação infantil estavam centradas nos estudos do pensamento da criança e da
influência da linguagem no rendimento escolar. Em decorrência destes fatos, os
anos 70 constituíram-se nos anos pródigos em currículos e programas educativos
para a criança e desencadearam, nos anos posteriores, pesquisas sobre as formas
de fazer e de pensar a educação da pequena infância (GARANHANI; MORO, 2000,
p.117).
A
Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental se estruturou sob
influência e orientação de diferentes tendências pedagógicas: a
psicomotricidade, o desenvolvimento/aprendizagem motora e a recreação (Grupo de
Estudos Ampliados em Educação Física, 1996). Estas tendências foram o reflexo
do pensamento pedagógico brasileiro para os anos iniciais de educação escolar
da época, o qual tinha a preocupação de evitar o fracasso no processo de
alfabetização da infância.
No
final da década de 70 e início da década de 80, o próprio Ministério da
Educação tratou de divulgar por todo o Brasil o novo fenômeno na educação das
crianças: a psicomotricidade. Como mensageira de tudo o que havia de mais
avançado, ela seria uma das grandes soluções para os inúmeros problemas que
levavam ao fracasso educacional e, em sentido mais restrito, ao fracasso da
alfabetização. Para tanto, era preciso treinar as habilidades: esquema
corporal, percepção temporal, lateralidade, equilíbrio, entre outros, passaram
a fazer parte do discurso pedagógico. (GRUPO DE ESTUDOS AMPLIADOS EM EDUCAÇẤO FÍSICA,
1996, p. 46).
A
Educação Física dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental apropria-se do discurso
proposto, pois este contrapõe os modelos de Educação Física relacionados ao
desenvolvimento das habilidades motoras, necessárias a uma futura performance
esportiva, e a oferta de atividades recreativas de livre movimentação para
compensar as energias acumuladas durante o tempo que as crianças ficam sentadas
em sala de aula.
Com
base nos aportes teóricos da psicologia do desenvolvimento, a psicomotricidade
argumentava que havia íntimas relações entre o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e o desenvolvimento motor das crianças, devendo a educação do
movimento ser suporte para o desenvolvimento intelectual infantil.
Este
discurso acaba sendo apropriado por diferentes especialistas que passaram a
disputar territórios no interior das instituições educacionais – psicólogos/as,
psicopedagogos/as, reeducadores/as e também professores/as de Educação Física.
Cada um destes dizia-se mais capacitado para trabalhar a educação do movimento.
(GRUPO DE ESTUDOS AMPLIADOS EM EDUCAÇẤO FÍSICA 1996, p.47).
As
habilidades psicomotoras tornaram-se conteúdos da Educação Física na Educação
Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental (Sayão, 1999) e esta − a
Educação Física − passou a ter um espaço no currículo escolar da infância desde
que cumprisse o papel de auxiliar nas aprendizagens de cunho cognitivo,
concebidas hierarquicamente como mais importantes ou fundamentais para a
criança. “A presença de um
profissional especializado que auxilie, assessore ou mesmo desenvolva este trabalho objetiva, nesta visão,
capacitar as aprendizagens” (SAYẤO, 1999, p.54).
No
final da década de 1980 e início da década de 1990 surgiu um intenso debate
sobre a Educação Física na escola devido a insatisfação de estudiosos da área
com a sua inserção, sistematização e valorização na educação escolar. As
discussões mobilizaram o surgimento de tendências pedagógicas que valorizassem
o movimento do corpo como expressão e comunicação, considerando-o como uma
forma de linguagem e/ou conhecimento que sistematiza, traduz e ressignifica
práticas corporais construídas, culturalmente, no meio social. Neste período,
reestruturações curriculares na Educação Física, nos diferentes níveis de
ensino e formação profissional possibilitaram resgatar o compromisso social da
ação pedagógica desta área do conhecimento na escola, buscando o entendimento
do movimento humano como: expressão da identidade corporal, prática social e
forma de se relacionar com o mundo (NAVARRO, 2007).
Atualmente,
estudiosos da Educação Física na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental estão se preocupando em discutir e apresentar elementos teóricos e
metodológicos para uma concepção de educação escolar que valorize o movimento do
corpo como uma linguagem do
processo de apropriação, reflexão e construção da cultura de nossa sociedade.
Dentre eles citamos Garanhani (2001-2002, 2004 e 2008); Silva (2005); Ayoub
(2005); Andrade Filho (2007), Neira (2008), Freitas (2008), e seus estudos
levam a seguinte compreensão: ao entender que a criança integra determinado
grupo social considera-se que sua educação é mediada por relações simbólicas.
Estas relações são marcadas por elementos políticos, econômicos, éticos e
estéticos como: classe, gênero, etnia, raça, religião, profissão dos pais etc.,
os quais configuram a especificidade do grupo social a que pertence. Em
síntese, no contexto sócio-histórico ao qual a criança está inserida, esta se
apresenta como um sujeito que produz e é produzida pela cultura e o movimento
do corpo poderá ser entendido como forma de expressão de significados da
cultura a qual pertence. Sendo assim, a educação escolar se constitui o meio
privilegiado para o conhecimento, ressignificação e sistematização das relações
simbólicas que a criança integra.
Assim,
com o intuito de contribuir para compreensão da sistematização da Educação
Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental apresentamos proposições
teóricas e metodológicas.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES E PROPOSIÇÕES...
No
contato com diferentes linguagens, a criança se insere em diversos sistemas
simbólicos que se tornam apoios para aprendizagens de elementos da cultura em
que vive. Portanto, desde que nasce, a criança entra em contato com o mundo
simbólico da cultura, sendo que a apropriação e construção de conhecimentos e,
consequentemente, o seu desenvolvimento ocorrem nas interações que ela
estabelece com as pessoas e com o meio cultural em que está inserida. Segundo Sarmento
(2007, p. 6) “... como membros da
sociedade, as crianças herdam a cultura dos adultos e são socializadas nesta cultura a partir das interações com
seus pais e com outros familiares. Mas elas próprias produzem cultura. O modo de interpretação do mundo
pelas crianças é marcado pela
alteridade em relação aos adultos”.
A
escola da infância, ao proporcionar o desenvolvimento infantil nas suas
diversas dimensões, poderá realizar esta mediação: criança e o conhecimento
culturalmente construído e traduzido em diferentes formas de linguagem: oral,
corporal, musical, gráfico-pictórica e plástica. Ao mesmo tempo, poderá
desenvolver estratégias para aprendizagens relacionadas à expressão e
comunicação. Mas, para isto é necessário que as escolas assumam as crianças não
como consumidoras, mas como sujeitos que produzem e são produzidos pelo
contexto histórico-cultural a que pertencem (SARMENTO, 2004 e 2007).
A
escola lida com uma cultura que, em larga medida, está previamente construída.
Mas as crianças não são elementos meramente passivos na aquisição dessa
cultura. Á medida que participam do processo de assimilação da cultura, trazem
consigo as culturas comunitárias em que foram enraizadas e os elementos de suas
culturas infantis. Desse modo, a escola passa a ser espaço de tradução de
múltiplos códigos entre culturas propriamente escolares e as culturas de
origem. (SARMENTO, 2007, p.7).
Neste
contexto, o corpo assume um papel fundamental no processo de constituição da
criança como sujeito cultural, pois a criança necessita agir para compreender e
expressar significados presentes no contexto histórico-cultural em que se
encontra, ou seja, ao transformar em símbolo aquilo que pode experimentar
corporalmente, a criança constrói o seu pensamento, primeiramente, sob a forma
de ação. Por isto, a criança necessita agir (se movimentar) para conhecer e
compreender os significados presentes no seu meio sociocultural. (GARANHANI,
2004 e 2006).
Em
síntese, “o corpo em movimento
constitui a matriz básica, em que se desenvolvem as significações do aprender”
(Garanhani, 2004, p.22), pois é
na sua movimentação que a criança compreende, expressa e comunica ideias, entendimentos, desejos etc.
incorporados e ressignificados da
cultura e, este fato, nos faz (re)pensar uma concepção de educação escolar que
valorize e sistematize a
movimentação da criança, não somente como uma necessidade físico e motora do desenvolvimento infantil, mas também
uma capacidade expressiva e intencional, ou seja, uma linguagem que se constrói no contexto histórico-cultural em que
ela se encontra.
Assim,
as características e especificidades da infância deverão nortear a prática
pedagógica da Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e, para
isto, propomos os seguintes eixos (GARANHANI, 2004):
Aprendizagens
que envolvem movimentações corporais para o desenvolvimento físico e motor,
proporcionando assim o conhecimento, o domínio e a consciência do corpo,
condições necessárias para a autonomia
e identidade corporal infantil.
Aprendizagens
que levem a compreensão dos movimentos do corpo como uma linguagem utilizada na
interação com o meio através da socialização.
Aprendizagens
que levem a ampliação do conhecimento
de práticas corporais historicamente produzidas na e pela cultura em que
a criança se encontra.
Estes
eixos deverão se apresentar integrados no fazer pedagógico da Educação Física
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, embora na elaboração das atividades
possa ocorrer a predominância de um sobre o outro conforme as características e
necessidades de cuidado/educação, presentes em cada idade da infância.
A
figura, na sequência, propõe uma representação gráfica da integração destes
eixos na prática pedagógica da Educação Física.
AUTONOMIA E
IDENTIDADE
CORPORAL
|
SOCIALIZAÇÃO
|
MOVIMENTO
(Educação Física)
AMPLIAÇÃO DO
CONHECIMENTO DE
PRÁTICAS
CORPORAIS INFANTIS
|
Podemos
traduzi-la da seguinte maneira: na busca da autonomia de movimentação do seu
corpo, a criança constrói sua identidade
corporal. Mas este processo só ocorre na relação com o outro, que se
encontra em um determinado contexto histórico-cultural, ou seja, ocorre na socialização. Neste cenário, as
crianças se aproximam e se apropriam de elementos da cultura que se traduzem em
conhecimentos, atitudes, práticas, valores e normas. Ao ingressar na escola,
independente da idade em que se encontra, a criança traz consigo conhecimentos
sobre sua movimentação corporal, apropriados e construídos nos diferentes
espaços e relações em que vive. A Educação Física deve sistematizar e ampliar esses conhecimentos, não se esquecendo
das características e necessidades de cuidado/educação corporais que se
apresentam em cada idade.
A
integração desses eixos, nas práticas pedagógicas da Educação Física, se faz
pelo brincar, que se apresenta
na educação da infância como um princípio pedagógico, pois segundo Leontiev
(1988) é no brincar que a criança adapta as suas condições a do objeto e/ou às
condições exigidas pela ação, com a preservação do próprio conteúdo da ação. É
neste processo que ela consegue experimentar, explorar e compreender os
significados culturais presentes no meio, consequentemente, elaborar e/ou
ressignificar o seu pensamento.
Assim,
brincando em atividades de intensa movimentação corporal, a criança
desenvolverá os seus diferentes aspectos, inclusive físico e motores e, ao
mesmo tempo, poderá ser levada a entender que esses movimentos têm
significados, pois se manifestam com o objetivo de expressão e comunicação.
Poderá entender, também, que os movimentos corporais se manifestam em diversas
práticas, como: os jogos e as
brincadeiras, as ginásticas, as danças, as lutas e os esportes e no
contexto da Educação Física Escolar estas práticas corporais se apresentam como
conteúdos que irão organizar a
disciplina Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
A ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DA
EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: ALGUMAS SUGESTÕES...
Conforme
as Diretrizes Curriculares de Educação Física para os Anos Finais do Ensino
Fundamental e para o Ensino Médio (SEED, 2008), os conteúdos estruturantes para
a Educação Básica são: esporte, jogos e brincadeiras, ginástica, lutas e dança
e estes devem ser abordados em complexidade crescente e não de forma etapista,
ou seja, não contemplar uma visão de ensino/ aprendizagem em que o aluno
aprende parte do conteúdo em cada nível de ensino. Estes conteúdos, também
configuram a Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e devem
ser abordados em complexidade crescente levando em conta os objetivos propostos
para cada turma do nível de ensino que estamos abordando, em consonância com as
características e necessidades de cada idade.
Destacamos
que nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental não serão trabalhados os esportes e
as lutas, propriamente ditos, somente elementos que configuram estas práticas,
como por exemplos, os nomes dos esportes, os materiais (bolas, vestimentas,
equipamentos), espaços físicos (quadras, salas, tatames), as possibilidades de
movimentação etc. Estes elementos poderão ser abordados em jogos e/ou
brincadeiras adequadas ao desenvolvimento do conteúdo, como por exemplo: alguns
elementos dos esportes poderão ser tratados por meio de jogos pré-desportivos
adequados às características de cada idade da infância e alguns elementos das
lutas por meio de jogos de oposição. Em síntese elementos dos esportes e das
lutas serão abordados nos conteúdos jogos e brincadeiras para que as crianças
conheçam, se apropriem e ressignifiquem, de uma maneira recreativa, os elementos
que configuram estas práticas.
Apoiado
nas considerações apresentadas, o professor iniciará a sua ação pedagógica
organizando os objetivos a serem desenvolvidos em cada eixo de ensino proposto
e os conteúdos a serem abordados, com base no contexto sociocultural em que a
escola se encontra.
O
quadro 1 mostrará algumas sugestões de objetivos a serem tratados nos eixos de
ensino propostos, mas vale ressaltar que estes são apenas sugestões para a
visualização de um exemplo, pois os mesmos deverão ser construídos em
consonância com a proposta pedagógica da escola. Ressaltamos também que a
apresentação gráfica dos exemplos em forma de quadro foi uma opção didática. No
planejamento e na prática docente da Educação Física Infantil, estes eixos
devem se integrarem e se articularem.
Quadro
1: Sugestões de objetivos a serem tratados nos eixos de ensino da Educação
Física Infantil (GARANHANI, 2004).
Eixo de trabalho
|
Objetivos
|
Conteúdos
|
Ampliação do conhecimento das práticas corporais infantis
|
Conhecimento e/ou reconhecimento,
apropriação e apreciação, construção e (re) organização das diversas práticas
corporais presentes no meio sociocultural para a sistematização e ampliação
do seu conhecimento em relação às possibilidades e maneiras de se movimentar.
|
|
Autonomia e Identidade Corporal
|
Exploração e conhecimento das
possibilidades de movimento do próprio corpo e suas limitações.
Adaptação corporal progressivamente
autônoma para a satisfação das necessidades básicas e às situações
cotidianas.
Observação das diferenças e semelhanças de
sua movimentação corporal em relação aos outros.
Disponibilidade e coordenação corporal na
execução de diversas formas de movimentos que envolvam deslocamentos.
|
Selecionar os jogos e as brincadeiras, as
ginásticas, as danças, elementos dos esportes e das lutas a serem tratados
como conteúdos para a sistematização e ampliação do conhecimento das crianças
sobre as práticas da Educação Física, por meio da socialização e
desenvolvimento de sua autonomia e identidade corporal.
|
Socialização
|
Confiança nas
possibilidades de movimentação corporal.
Esforço para vencer
as situações de desafios.
Aceitação das
diferenças corporais.
Colaboração e
iniciativa com o grupo.
Expressão e
interpretação de sensações, sentimentos e intenções.
Diferenciação de
posturas e atitudes corporais.
|
|
Os
objetivos e as atividades dos conteúdos de cada eixo de ensino deverão ser
definidos conforme a idade de cada turma dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental e, é importante lembrar que um eixo de trabalho não exclui o outro
durante a prática pedagógica, eles se complementam. Por exemplo: o professor
irá trabalhar como conteúdo o conhecimento
de uma determinada dança folclórica. Ao ensinar para as crianças os
movimentos desta prática estará desenvolvendo autonomia corporal (através da aprendizagem e domínio da
movimentação que caracteriza esta dança), como também o conhecimento da identidade corporal de sujeitos de um
determinado contexto sociocultural que pratica esta dança (por meio de
indagações e reflexões como, por exemplo: onde surgiu esta dança? por que eles
se movimentam desta forma para dançar?). Esta ação pedagógica é realizada por
meio da aprendizagem, domínio e resignificação da movimentação de seus corpos
infantis, consequentemente, conhecimento e construções de expressões corporais.
As
suas movimentações expressivas configuram-se linguagem e permite que elas se
comuniquem entre pares, sendo um processo de socialização. Por exemplo: a criança terá
condições de diferenciar a movimentação corporal do fandango ao ser comparada
com a movimentação do samba e compreender o porquê destas diferenças. Poderá
dominar alguns movimentos para a identificação e prática desta dança, como
também, condições de se integrar e/ou interagir com pessoas ou grupo que a pratica.
Neste
cenário, as práticas avaliativas constituem-se um suporte pedagógico da ação
docente, pois é por meio delas que é possível acompanhar o quê foi aprendido
pela criança, como foi aprendido e, consequentemente,
mobiliza reflexões sobre os procedimentos metodológicos utilizados (SANTOS,
2005). Portanto, o processo de avaliação constitui-se um dos elementos de
organização do processo da prática docente.
Segundo
as Diretrizes Curriculares da Educação Física para os Anos Finais do Ensino
Fundamental e para o Ensino Médio (SEED, 2008), as transformações ocorridas no
campo das teorizações em Educação e Educação Física, principalmente a partir
dos anos 1980 e 1990, fez com que a função da avaliação na Educação Física
Escolar ganhasse novos contornos, ou seja, de uma avaliação que priorizava os
aspectos quantitativos de mensuração do rendimento do aluno, em gestos
técnicos, destrezas motoras e qualidades físicas, visando principalmente à
seleção e à classificação dos alunos, para estudos que conduzem os professores
a buscar novas formas de compreensão dos significados da avaliação no contexto
escolar.
Assim,
a Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental deverá buscar
práticas avaliativas descritivas que permitem a análise e interpretação do processo
de ensino/aprendizagem da criança. Estas práticas poderão utilizar como
instrumentos registros escritos e registros de imagens (fotos e vídeos).
O
professor poderá fazer anotações frequentes sobre os limites e avanços de cada
criança; das relações criança-criança, criança-professor, criança-conteúdo e,
também, das aproximações e distanciamentos de cada criança com as atividades
propostas (SILVA, 2005). Devido à especificidade de que o professor de Educação
Física é um profissional responsável por muitas (turmas) crianças na escola, é
necessário que este crie estratégias docentes para realizar os registros do
processo de avaliação, as quais poderão ser: registro diário ou semanal sobre o
processo de aprendizagem de cada turma, registro sobre o desenvolvimento dos
alunos que conseguiram ou não executar, participar e compreender as atividades
propostas para a avaliação, registro diário de alunos que apresentam
dificuldades na execução, compreensão e participação nas atividades etc. Mas, é
importante ressaltar que estes registros deverão ser norteados pelos objetivos
definidos, na proposta pedagógica, para a Educação Física nesta fase de
escolarização.
O
professor poderá também mobilizar a participação da criança no processo de
avaliação, ao ouvi-la na seleção e definição de aspectos a serem avaliados e
estratégias de como avaliá-los. A autoavaliação (a avaliação do seu desempenho)
e avaliação em pares (um avaliando o outro) são também sugestões de
participação direta da criança neste processo e instrumentos que poderão
complementar as estratégias avaliativas do professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante
do exposto, destacamos que este não é o momento para finalizar as reflexões e
proposições apresentadas, sobre a Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Mas o momento de dar início a um processo de interlocução entre os
profissionais responsáveis pela educação escolar da criança para aprofundar e,
se necessário, (re)orientar estas reflexões e proposições por meio de ações que
mobilizem um processo de (re)construção de uma concepção de educação escolar
que valorize a movimentação do corpo infantil e, consequentemente, a disciplina
Educação Física neste nível de escolarização.
Assim,
tendo como premissa que os movimentos corporais se agrupam em diversas práticas
e estas práticas se traduzem, em nossa sociedade, em linguagens, ressaltamos
que a escola tem como objetivo proporcionar à criança o conhecimento, a
sistematização, a reflexão e a ressignificação das práticas de movimentação do
seu corpo, por meio de conteúdos da disciplina Educação Física. Para isto, é necessário apostar em propostas de
ensino e também em práticas docentes que atendam esta perspectiva educacional.
ENTENDIMENTO
Segundo
a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996), capitulo 2 –
artigo 26, no parágrafo (3°): “A
educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente
curricular da Educação Básica, ajustando às faixas etárias e as condições da
população escolar (...)” até então não sendo obrigatória. Em 2003, a
Educação Física tornou-se componente curricular obrigatório.
Em
meados do século XVIII, a “educação física” passa a ganhar espaço na educação
escolar e a educação da infância se torna prioridade dos seus pensadores,
dentre eles se destacam Rousseau e Locke. No século XIX a “educação do físico”
vem com o objetivo de cuidar do corpo, usando como ferramenta a ginástica. No
fim do século XIX e inicio do século XX, ouve uma expansão de experiências
pedagógicas em vários países europeus, essas experiências resultaram em uma
valorização da movimentação do corpo na educação sensorial e intelectual da
infância.
A
Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental se estruturou sobre
influencia de diferentes tendências pedagógicas: psicomotricidade,
desenvolvimento/aprendizagem motora e a recreação.
A
psicomotricidade acredita ter relação entre o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e o desenvolvimento motor das crianças, tendo a educação motora como
base para o desenvolvimento intelectual infantil. As habilidades psicomotoras
se tornaram conteúdos da Educação Física na Educação Infantil e Anos Iniciais
do Ensino Fundamental (Sayão, 1999), e a Educação Física passou a ter seu lugar
no currículo escolar da infância, desde que auxilie na aprendizagem cognitiva.
A
escola da infância deve propiciar o desenvolvimento infantil referente ao
conhecimento cultural realizados em diferentes formas de linguagem, tais como:
oral, corporal, musical, gráfico-pictórica e plástica.
Os
conhecimentos estruturantes da Educação Básica da Educação Física são: jogos e
brincadeiras, ginástica, lutas e dança, trabalhando de forma crescente
considerando os objetivos propostos para cada faixa etária. Nos anos iniciais
não são trabalhados esportes e lutas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brasil.
Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação
e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.
Brasil.
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação
física / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.
Brasil.
Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes curriculares da educação
básica – Educação Física / Secretaria de Educação Fundamental. 2008.
Ensino
fundamental de nove anos: orientações pedagógicas para os anos iniciais /
autores: Angela Mari Gusso… [et al.] / organizadores: Arleandra Cristina Talin
do Amaral, Roseli Correia de Barros Casagrande, Viviane Chulek. -Curitiba, PR:
Secretaria de Estado da Educação 2010. 176 p. ; 30 cm.
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